Lenin, numa hora dessas?
Por Emir Sader.
Entre as grandes provocações que Žižek promove, estão a releitura de autores praticamente desterrados porque tornados malditos. Lenin, Mao e Robespierre estão entre eles.
No caso de Lenin, ele surpreendeu a tantos, no seu Às portas da revolução: escritos de Lenin de 1917 – quea Boitempo publicou e agora coloca à disposição para a venda em formato eletrônico (ebook). Como diz ele na abertura do livro, Marx é tolerado como analista da cultura e é reivindicado até por economistas de direita para tentar entender a crise capitalista. Mas e Lenin?
Lenin passou a estar associado a tudo ou quase tudo a que setores de esquerda renunciaram: URSS, ditadura do proletariado, partido como vanguarda, assalto violento ao poder, tomada do poder do Estado etc. etc. Quem quer proclamar publicamente que já é mais subversivo, renegando a Lenin consegue entregar um bom diploma de conversão ao bom comportamento. (Dá também para conseguir um resultado aproximado dizendo que Marx foi um bom analista, principalmente econômico, mas errou em tudo no plano político.)
“Mas, e se houvesse outra história a ser contada sobre Lenin?” É a contar essa outra história que se dedica Žižek no livro. Depois de uma breve apresentação, ele coloca uma seleção de 12 textos de Lenin, que vão de “Cartas de Longe” (de março de 1917), passando, entre outros, pelas bem conhecidas “Teses de abril”, “A catástrofe que nos ameaça e como combate-la”, “Os bolcheviques devem tomar o poder”, “Marxismo e insurreição” e “Conselhos de um ausente”, até outubro, quando a insurreição já tinha sido vitoriosa.
O posfácio é um texto substancial de Žižek, de mais de 170 páginas, com o título “A escolha de Lênin”, apontando para a abordagem de temas como: “O direito à verdade”, “O materialismo revisitado”, “A grandeintrínseca do stalinismo”, “Lenin como ouvinte de Schubert”, “Lenin amava o próximo?”, “Da passage`l´acte ao ato em si”, “Bem-vindo ao deserto do Real!” (referindo-se a temas abordados no livro de mesmo título, que a Boitempo também lança em ebook, este exclusivamente ilustrado para a versão eletrônica), “Violência redentora”, “Contra a política pura”, “Pois eles não sabem no que acreditam”, “Capitalismo cultural”, “Um Lenin do subespespaço”, “Contra a pós-política” e “Retorno versus repetição”.
Só pela menção dos temas já dá para aquilatar a heterodoxia com que ele aborda os temas. Não há pepino – histórico, politico ou teórico – da esquerda, que Žižek deixe de pegar pelos chifres para tentar passá-lo a limpo e decifrá-lo.
Ele avança na mesma direção apontada por Lukács em relação a Marx: não a de canonizar o que esses autores clássico disseram, mas tentar extrair uma metodologia de em que consistiria o marxismo. Para Lukács, no método, na dialética, estaria o único aspecto ortodoxo de Marx. Para Žižek, é a capacidade de construir alternativas estratégicas a partir de uma situação concreta.
Para quem gosta (ainda ou sempre) de Lenin, para quem quer conhecê-lo de maneira surpreendente, para quem quer acertar contas com Lenin, para quem quer ter uma leitura instigante – recomenda-se também essa provocação de Žižek.
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Emir Sader nasceu em São Paulo, em 1943. Formado em Filosofia pela Universidade de São Paulo, é cientista político e professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). É secretário-executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso) e coordenador-geral do Laboratório de Políticas Públicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). Coordena a coleção Paulicéia, publicada pela Boitempo, e organizou ao lado de Ivana Jinkings, Carlos Eduardo Martins e Rodrigo Nobile a Latinoamericana – enciclopédia contemporânea da América Latina e do Caribe (São Paulo, Boitempo, 2006), vencedora do 49º Prêmio Jabuti, na categoria Livro de não-ficção do ano. Colabora para o Blog da Boitempo semanalmente, às quartas-feiras.
Com certeza Lenin deve ser compreendido e estudado como visionário, intelectual, homem político e filósofo de esqueda. Não como subversivo, como é de praxe dizer.
Marx como analista de uma esquerda utópica, e Lenin, como agente atuante no meio revolucionário.
Prof. Marco Aurélio Buzetto.
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òtimo texto! Emir se saiu muito bem ontem, fechando o seminário Revoluções. Belas e justas palavras, inclusive no que diz respeito à bravura da Boitempo. Faço minhas as suas palavras.
Quanto ao Zizek, é de fato um caso à parte, brilhante orador, vale cada minuto ouvido de sua conferência.
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Oi foi a 1ª vez que encontrei o teu blogue e gostei imenso!Espectacular Projecto!
Adeus
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