Nossas palavras

CAPA_.inddPor Edyr Augusto.

Meu amigo lusitano Diniz está traduzindo para o francês meus dois primeiros romances, Os Éguas e Moscow, lançamentos Boitempo Editorial. Temos trocado e-mails muito interessantes, por conta de palavras e gírias comuns no meu Pará e absolutamente sem sentido para ele. Às vezes é bem difícil explicar, como na cena em que alguém empina papagaio e corta o adversário “no gasgo”. Não sei se no universo das pipas, lá fora, ocorrem os mesmos e magníficos embates que se verificam aqui, com linhas enceradas e manobras ousadas, “cortando e aparando” os adversários ou então, maior habilidade, “dar no gasgo”.

Outra situação em que personagens estão jogando uma “pelada” enquanto outros estão “na grade”. Quem está na grade, aguarda o desfecho da partida, para jogar contra o vencedor, certamente porque espera fora do campo, demarcado por uma grade. Vai explicar…

E aqueles dois bebedores eméritos que “bebem de testa” até altas horas? Por aqui, beber de testa é quase um embate para saber quem vai desistir primeiro, empilhando as grades de cerveja ao lado da mesa.

O tradutor de Hornet’s nest [Casa de caba], Richard Bartlett, comprou dicionários de palavrão e DVDs eróticos brasileiros, para melhor entender. Richard é sul africano, mas aprendeu português em Moçambique e agora mora em Londres.

Penso que é parte da nossa criatividade, de nosso potencial, o uso das gírias, de palavras bem locais, quase dialeto, que funcionam na melodia do nosso texto, uma qualidade da literatura brasileira. Sei que o governo está fazendo esforço no sentido de tradutores para lançamento no mercado europeu de vários autores. Agora na Feira do Livro em Frankfurt, o Brasil é homenageado e muitos escritores lá estarão.

Quanto a mim, uso pouco, aqui e ali, nossas palavras. Procuro ser econômico. Mesmo assim, vou respondendo aos e-mails. Ele me diz que enfim, está tudo pronto. Agora é aguardar a publicação. Quando souber o título para Os Éguas, aviso.

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Selva concreta, de Edyr Augusto já está disponível em versão eletrônica (ebook) por uma fração do preço do impresso nas livrarias AmazonGato Sabido e Travessa, entre outras.

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Edyr Augusto Proença é jornalista, radialista, redator publicitário, autor de teatro e de jingles. É autor de cinco livros de poesia: Navios dos cabeludos (1985), O rei do Congo (1988), Surfando na multudão (1992), Indêncio nos cabelis (1995) e Ávida vida (2011). Estreou em prosa na Boitempo Editorial, em 1988, com Os Éguas. Desde então, publicou os romances Moscow (2001),  Casa de caba (2004) e o mais recente Selva Concreta – obra que em 2007 ganhou edição em inglês pela britânica Aflame Books, com o título Hornets’ Nest –, além do livro de contos Um sol para cada um (2008).

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