Virgínia Fontes: Lênin continua insuperável
"Lênin continua insuperável, mesmo mais de um século depois de haver escrito o magistral O que fazer?, que acaba de ganhar nova edição pela Boitempo."
Por Virgínia Fontes.
Lênin continua insuperável, mesmo mais de um século depois de haver escrito o magistral O que fazer?, que acaba de ganhar nova edição pela Boitempo. Aprendeu com seu mestre, Marx, a mostrar os rotos fundilhos das formulações abstratas que, com belas e sedutoras frases, procuram escamotear o profundo horror das condições concretas de existência das grandes massas e com isso obstruir o avanço das lutas pela emancipação da humanidade do jugo do capital.
Com elegância e maestria, Lênin não apenas se opõe aos setores oportunistas, economicistas, conformistas, “espontaneístas”, mas desmonta seus argumentos um por um, exibe a documentação que comprova a covardia de tais formulações e elabora cuidadosamente os argumentos que desvelam tais práticas, sem perder o fio das lutas revolucionárias. Ele consolida a teoria e a prática revolucionárias tanto na imediaticidade dos embates de seu tempo, como enfrenta argumentos que, sorrateiros, são ainda hoje requentados e reutilizados, demonstrando a absoluta falta de criatividade e de opções dos defensores – mais ou menos maquiados – do capital e do capitalismo.
É fundamental notar que Lênin não se limita a repetir Marx e Engels: ele integra plenamente sua contribuição e a atualiza ao elaborar de mão própria e firme a crítica à “crítica crítica” (os tais argumentos abstratos e genéricos) outrora empreendida pelos citados autores clássicos. O livro O que fazer? é uma enorme lição, não apenas porque a grande maioria de suas análises permanece válida, mas sobretudo porque ele nos oferece uma verdadeira aula prática de marxismo: não basta ter uma receita, é preciso enfrentar o cotidiano das lutas, as armadilhas que a dominação de classes lança mesmo sobre aqueles que pensam ser… a favor dos trabalhadores. Não basta ser “a favor” dos trabalhadores, é preciso enfrentar, com os trabalhadores, o mundo do capital e suas formas de dominação de classe econômicas, ideológicas e políticas. E esse enfrentamento não se limita a escassas concessões econômicas – ele é sobretudo político e social. É revolucionário.
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Na TV Boitempo, Virgínia Fontes, Jones Manoel e Fábio Palácio debatem a atualidade de O que fazer?, de Lênin, nos 150 anos de nascimento do teórico marxista e revolucionário russo. A mediação foi de Genilda Souza.
O que fazer? Questões candentes de nosso movimento
Com edição, sempre primorosa, de Carolina Mercês, este quarto título da coleção Arsenal Lênin da Boitempo conta com revisão de tradução de Paula Almeida e o prefácio à edição brasileira é assinado por Valério Arcary.
“Em O que fazer? não há respostas às perguntas de hoje, mas elementos para ajudar a construir as soluções práticas atuais. Vivemos o início de uma nova era. É possível (e necessário) fazer uma nova leitura da obra de Lênin, na certeza de que ela pode constituir uma contribuição valiosa para nos orientar nos desafios de nosso tempo. Trata-se de um regresso criativo e promissor: não voltamos ao mesmo, nem temos a mesma atitude. O que persiste é o compromisso com a criação de uma nova sociedade, com a superação histórica do capitalismo.” – Atilio A. Boron
“Em O que fazer?, encontramos uma compreensão aguçada de que, por trás do confronto entre “partido revolucionário” e “partido das reformas”, jaz outro conflito entre as relações de ambos com o Estado e a revolução, com a burguesia e o capitalismo.” – Tamás Krausz
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