Caio Prado Júnior, sempre um historiador

Fernando Novais comenta “História e desenvolvimento”, de Caio Prado Júnior, destacando como o intelectual marxista dominava diversas áreas das ciências sociais, mas permanecia, sobretudo, um historiador.

Por Fernando Novais

Nos últimos tempos (desde fins do século passado), a obra de Caio Prado Júnior vem sendo objeto de valiosos estudos acadêmicos, que marcam o alcance de sua contribuição e lhe definem o significado. Isso é muito gratificante para nós, que, em trabalhos anteriores, nos quais procuramos situar Formação do Brasil contemporâneo (1942) na historiografia brasileira, lembrávamos a necessidade de análise do conjunto de seus estudos, que se desdobram em vários domínios do conhecimento: filosofia, história, economia e política.

Nesse sentido, é mais que oportuna a reedição de História e desenvolvimento, escrito como tese de livre-docência em 1968 e lançado comercialmente pela editora Brasiliense em 1972. Um livro que articula história e política em busca de medidas de desenvolvimento econômico e representa não apenas uma síntese competente da trajetória socioeconômica do Brasil – do período colonial à época em que foi escrito –, como permanece um importante aporte do intelectual paulista para uma compreensão mais ampla da memória de nosso país e de seus caminhos de desenvolvimento. Além disso, esta nova edição, agora publicada pela Boitempo, reincorpora a introdução original do autor e o prefácio de Florestan Fernandes, que apresenta a obra com o rigor e a densidade de sempre.

A diversificação de Caio Prado Júnior nas várias ciências sociais leva-nos a considerar seu pensamento no campo de debates do marxismo contemporâneo. É conhecido o intrincado problema do materialismo histórico frente às ciências sociais, ou vice-versa. Lembra-nos, a propósito, a importantíssima coleção Grandes Cientistas Sociais, dirigida pelo mesmo Florestan Fernandes. Navegando por muitas águas, nosso autor foi, sempre e antes de tudo, um historiador.

***

História e desenvolvimento inaugura uma série de publicações do historiador marxista Caio Prado Júnior que a Boitempo publicará ao longo dos próximos anos, sob coordenação de Luiz Bernardo Pericás. Caio Prado escreveu esse texto em formato de tese em 1968, com o objetivo de concorrer à cátedra de história da Universidade de São Paulo e incentivado por Sérgio Buarque de Holanda. Censurado pelo AI-5, o concurso foi cancelado, e a obra se viu publicada apenas quatro anos depois.

Com uma maestria que poucos detém, Caio Prado navega com facilidade pelos temas da economia política, entrelaçando-os à história, e contesta, nesta obra, a adequação da política econômica à época para um “real progresso” do Brasil e sua população. Para ele, o desenvolvimento e o crescimento econômicos constituem temas essencialmente históricos que teriam sido monopolizados de modo indevido pela economia.

“No Brasil contemporâneo, nenhum autor contribuiu mais para a transformação do pensamento social brasileiro que Caio Prado Júnior. Seu notável percurso como intelectual e historiador, ao demonstrar a dramática incapacidade do país de superar seu passado colonial, especialmente desde o icônico Formação do Brasil contemporâneo, foi marcado por enorme dignidade e integridade. Sua militância comunista lhe valeu exílios e prisões, como aquela ocorrida em 1970, durante a ditadura militar, por motivo de “incitação subversiva” durante uma entrevista.”
– PAULO SÉRGIO PINHEIRO

O livro de Caio Prado Júnior tem prefácio de Florestan Fernandes, posfácio de Leda Paulani, quarta capa de Paulo Sérgio Pinheiro, notas da edição de Luiz Bernardo Pericás e capa de Maikon Nery.

***

Disponível em nossa loja virtual e e-book à venda nas principais lojas do ramo:


Confira a live de lançamento de História e desenvolvimento, com Leda Paulani, Antonio Carlos Mazzeo e Marcelo Bamonte (mediação), na TV Boitempo:

Saiba mais:
Blog da Boitempo: Obra de Caio Prado Júnior nasce da rebeldia moral, por Florestan Fernandes
Guia de leitura de História e desenvolvimento | ADC#13
Jacobin: A economia política do Brasil e seu mestre soberano, por Leda Paulani

***
Fernando Novais é historiador, professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, lecionou também no Instituto de Economia da Unicamp e na Facamp. Autor de Portugal e Brasil na crise do Antigo Sistema Colonial  (1979), entre outros.

Deixe um comentário