A educação brasileira nas mãos das big techs
Para além de discursos, denunciando as big techs e a prisão de Assange, necessitamos controlar a desinformação barrando o poder desses monopólios, que lucram com fake news em sua economia da atenção.
Imagem: Innova Labs (Pixabay).
Por Deivison Faustino e Walter Lippold
Durante a pandemia, entregamos as redes de educação públicas para o monopólio das big techs. Nossos dados de aulas, avaliações, vozes, imagens são armazenados e processados por corporações como a Alphabet-Google e AWS (Amazon Web Service). Essas corporações, vistas como potências benevolentes são empresas imperialistas ligadas ao complexo industrial-militar e seu poderoso lobby no Estados Unidos.
Kwame Nkrumah ensina que o imperialismo, em sua fase atual, pode ser chamado de neocolonialismo, e nesse celeiro que se produz o fenômeno do colonialismo digital. De uma lado a imersão no ciberespaço e o home office, do outro o mundo esquecido do estudantes periféricos sem conexão, as contradições da experiência pandêmica na educação marcaram nossos tempos, alertando sobre a ideologia californiana ligada ao Vale do Silício e suas corporações de tecnologia.
A ideologia californiana visa transformar a educação em coach, introduzindo metodologias condizentes com a indústria 4.0: proatividade, motivação, desempenho, produtividade são as palavras de ordem. A ideologia do empreededorismo é inoculada e capilarizada nas redes de ensino públicas via controle de recursos, via formações docentes, comandadas por organizações como o Instituto Lemann e a ONG MegaEdu.
As big techs empreendem no Brasil uma verdadeira acumulação primitiva de dados, controlando elementos vitais de pesquisa e inovação científica em nossas universidades públicas e institutos federais. Entregamos para a corporação Google nossos dados, expertise e futuras patentes.
Para além de discursos, denunciando as big techs e a prisão de Assange, necessitamos controlar a desinformação barrando o poder desses monopólios, que lucram com fake news em sua economia da atenção. Precisamos de uma ação efetiva de retomada das políticas de software livre na educação, investir em cabeamento, centros de processamento de big data, hardware, software, desenvolver plataformas nacionais, inteligência artificial nas universidades públicas, enfim, infraestrutura para que possamos fortalecer a soberania digital do Brasil. Além disso, combater o lobby poderoso de Institutos que representam a precarização do trabalho, dentro dos ditames da pedagogia corporativa neoliberal.
Quais são os impactos das tecnologias em nossa sociedade? Que consequências enfrentamos com a concentração das principais ferramentas tecnológicas que regem a vida de milhões de pessoas no domínio de um punhado de empresas estadunidenses? De que maneira é possível relacionar algoritmos a racismo, misoginia e outras formas de violência e opressão?
Em Colonialismo digital: por uma crítica hacker-fanoniana, Deivison Faustino e Walter Lippold entrelaçam tecnologia e ciências humanas, apresentando um debate provocador sobre diferentes assuntos de nossa era. Inteligência artificial, internet das coisas, soberania digital, racismo algorítmico, big data, indústrias 4.0 e 5.0, segurança digital, software livre e valor da informação são alguns dos temas abordados.
A obra se inicia com um debate histórico e conceitual sobre o dilema das redes e a atualidade do colonialismo para, em seguida, discutir as expressões “colonialismo digital” e “racismo algorítmico”. Ao fim, apresenta uma reflexão sobre os possíveis caminhos a seguir, partindo das encruzilhadas teóricas e políticas entre o hacktivismo anticapitalista e o pensamento antirracista radical. Para discutir a relação dialética entre tecnologia, dominação e desigualdade e propor pautas fundamentais a movimentos sociais, os autores dispõem, ao longo da obra, da contribuição de intelectuais como Frantz Fanon, Karl Marx, Julian Assange, Shoshana Zuboff, Byung-Chul Han, Marcos Dantas, entre outros.
A edição conta, ainda, com a colaboração de referências no debate nacional: a apresentação é de Sergio Amadeu, especialista em software livre e inclusão digital no Brasil; e o texto de orelha é de Tarcízio Silva, pesquisador e um dos maiores nomes do hacktivismo brasileiro.
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Deivison Faustino é doutor em sociologia e professor do programa de pós-graduação em serviço social e políticas sociais da Universidade Federal de São Paulo. É integrante do Instituto Amma Psique e Negritude e pesquisador do Núcleo Reflexos de Palmares, onde pesquisa, entre outros temas voltados à relação entre capitalismo e racismo, o colonialismo digital. É autor de diversos livros e artigos sobre Frantz Fanon e pensamento antirracista. Pela Boitempo, publicou Colonialismo digital: por uma crítica hacker-fanoniana, com Walter Lippold.
Walter Lippold é doutor em história e pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Universidade Federal Fluminense e do Núcleo Reflexos de Palmares da Universidade Federal de São Paulo. É professor do Curso Uniafro da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pesquisador de colonialismo digital, história da tecnologia, cibercultura, hacktivismo, da obra de Frantz Fanon e da história da Argélia. Pela Boitempo, publicou Colonialismo digital: por uma crítica hacker-fanoniana, com Deivison Faustino.
Compreendo a importância vital de agir. Precisamos de políticas que protejam nossa soberania digital. Investir em tecnologia nacional na educação é crucial. Combater a desinformação, fortalecer infraestrutura e resistir aos monopólios das big techs é essencial para preservar nossa autonomia e educação de qualidade. https://brasileducando.com
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