Todo apoio à livraria palestina Educational Bookshop!
A repressão a editores e livreiros, bem como a censura e retirada de obras de circulação, alerta a história, é perigosa.

Foto: WikiCommons
No último domingo, 9 de fevereiro de 2025, a livraria palestina Educational Bookshop, localizada em Jerusalém oriental, foi invadida pelas forças israelenses, e seus donos foram presos. Agentes à paisana entraram em duas das sedes da loja na rua Salah Ad Din, principal rua comercial da cidade velha. Em apenas cinco minutos, eles expulsaram os clientes e começaram uma busca por livros, sem ordem judicial: as prateleiras ficaram vazias, com todos os volumes dispostos jogados no chão. Ahmad Muna, de 34 anos, e seu tio, Mahmoud Muna, 41, foram levados junto com dezenas de livros considerados suspeitos. Ao jornal israelense Haaretz, um familiar declarou: “Eles examinaram os livros usando o Google Tradutor e levaram tudo o que não gostaram.” Acrescentou também que foram confiscados todas as obras que tinham a bandeira ou outros símbolos palestinos na capa – entre elas, havia exemplares de Ilan Pappe e Noam Chomsky.
“Qualquer semelhança a certos eventos macabros do século XX europeu não será mera coincidência!! É necessário rejeitar enfaticamente essa agressão, esse ataque à liberdade de expressão”, escreveu a historiadora Arlene Clemesha, autora de Marxismo e judaísmo, em suas redes sociais.
Ahmad e Mahmoud Muna devem ficar presos até amanhã, e depois serão forçados a cumprir 5 dias de prisão domiciliar. A acusação citada foi de “conduta fora de ordem”, mas nos documentos apresentados alegava-se ofensas terroristas. Representantes de embaixadas de diversos países, a exemplo do Brasil, Suíça e Irlanda, estiveram presentes na audiência ocorrida no fim da tarde.
A Boitempo repudia veementemente mais essa investida do Estado sionista de Israel contra o povo palestino. Não se pode menosprezar a gravidade desse ataque. Episódios como esse demonstram que a violência colonial perpetrada contra os palestinos não se limita à ocupação de seu território e ao genocídio de sua população, mas busca aniquilar sua cultura e memória em todos os âmbitos. Trata-se de um atentado à liberdade de pensamento e expressão que não pode ser normalizado – a repressão a editores e livreiros, bem como a censura e retirada de obras de circulação, alerta a história, é por demais perigosa. Nos solidarizamos com a Educational Bookshop e todos aqueles empenhados na formação de leitores críticos para a transformação do mundo, e que se somam à luta por uma Palestina livre, do rio ao mar.
* Este texto contou com a colaboração de Isadora Szklo.
5 LEITURAS PARA ENTENDER A LUTA PALESTINA
A Margem Esquerda | #43 abre com densa entrevista concedida pelo historiador palestino-americano Rashid Khalidi a Tariq Ali, artigos de Arlene Clemesha, Samah Jabr, Tithi Bhattacharya, Bruno Huberman e Ilan Pappé, ensaio visual do artista plástico palestino Yazan Khalili e poema de Rafaat Alareer, assassinado em dezembro de 2023 por um bombardeio aéreo israelense.


Caminhos divergentes, de Judith Butler
A partir das ideias de Edward Said e de posições filosóficas judaicas, Butler articula uma crítica do sionismo político e suas práticas de violência estatal ilegítima, nacionalismo e racismo patrocinado pelo Estado. Além de Said, reflete sobre o pensamento de Levinas, Arendt, Primo Levi, Buber, Benjamin e Mahmoud Darwish para articular uma nova ética política, que transcenda a judaicidade exclusiva e dê conta dos ideais de convivência democrática radical, considerando os direitos dos despossuídos e a necessidade de coabitação plural.
Ideologia e propaganda na educação, de Nurit Peled-Elhanan
A professora de linguagem da educação investiga os recursos visuais e verbais utilizados em livros didáticos de Israel para representar a população palestina. Mobilizando o arcabouço teórico e metodológico da análise crítica do discurso e da análise multimodal, Nurit Peled-Elhanan detalhada os mecanismos pelos quais esses materiais escolares moldam um imaginário de marginalização: o discurso aparentemente científico e neutro é, em realidade, carregado de signos de violência, desprezo e intolerância que oculta a população palestina.


Cultura e política, de Edward W. Said
Edward Said imprime uma visão universalista em suas análises sobre a questão palestina, inserindo-a no conjunto das grandes lutas pelo reconhecimento de todos os povos a afirmar sua identidade e ter sua expressão política. Sua obra denuncia o racismo ocidentalista, que tenta se legitimar como visão hegemônica do mundo, opõe-se à criminalização da luta do povo palestino e de todos aqueles considerados fora dos padrões da chamada civilização ocidental.
A liberdade é uma luta constante, de Angela Davis
Esta ampla seleção de artigos traz reflexões sobre como as lutas históricas do movimento negro e do feminismo negro nos Estados Unidos e a luta contra o apartheid na África do Sul se relacionam com os movimentos atuais pelo abolicionismo prisional e com a luta anticolonial na Palestina. A obra da intelectual e ativista Angela Davis ensina também a pensar a nossa luta em relação a todos os “condenados da terra”, como escreveu Frantz Fanon.
NO BLOG DA BOITEMPO
O plano de Trump para Gaza: blefe ou cartada final?, por Bruno Huberman
Gaza é aqui: um poema de Fadwa Tuqan tra(du)zido para o sertão nordestino, por Adelaide Ivánova
Pensar após Gaza, por Vladimir Safatle
Instrumentalização do antissemitismo: um gerador eterno de privilégios, por Antony Lerman
Poema de número 4, por Zakaria Mohammad
Palestinização do mundo, por Berenice Bento
Pensar a Palestina após Gaza: uma breve historiografia da Nakba, por Arlene Clemesha
Morrer em Gaza: a esquerda não pode mais permanecer calada, por Raul Zelik
As palavras apodrecem, por Luiz Eduardo Soares
O imperialismo capitalista sustenta o colonialismo racista em Israel, por Jodi Dean
A Palestina fala por todos nós, por Jodi Dean
Alemanha me censurou por apoiar a Palestina, por Nancy Fraser
Manifesto de criação da Rede Universitária de Solidariedade ao Povo Palestino
Orientalismo e colonialismo, por João Quartim de Moraes
O expansionismo israelense e o impasse árabe, por Luiz Bernardo Pericás e Osvaldo Coggiola
Por que Israel quer calar o mundo?, por Berenice Bento
A gentrificação de Gaza, por Slavoj Žižek
Em defesa de Breno Altman e do povo palestino, por Virgínia Fontes
Al Nakba, uma tragédia sem fim, por Arlene Clemesha
A manipulação do antissemitismo como instrumento de censura às críticas a Israel, por Vozes Judaicas por Libertação
O que é um genocídio?, por Vladimir Safatle
A questão da Palestina e as Brigadas Internacionalistas, por Milton Pinheiro
Por quem os sinos dobram, Gaza?, por Urariano Mota
Genocídio palestino e o grito de Antígona, por Berenice Bento
O genocídio palestino e palavras que matam, por Berenice Bento
Além do luto: sobre amar e ficar com aqueles que morrem em nossos braços, por Devin G. Atallah
Vidas palestinas importam, por Luis Felipe Miguel
O alcance do luto, por Judith Butler
Palestina, meu amor, por Berenice Bento
Razão e desrazão de uma guerra, por Mauro Luis Iasi
Sobre a Palestina, a G4S e o complexo industrial‑prisional, por Angela Davis
Israel e Hamas: onde está a verdadeira linha divisória?, por Slavoj Žižek
Fontes da resistência palestina, por Osvaldo Coggiola
Levante na Palestina, por Tariq Ali
A esquerda, o sionismo e a tragédia do povo palestino, por Domenico Losurdo
A limpeza étnica da Palestina e os livros didáticos de Israel, por Nurit Peled-Elhanan
O paradigma do sofrimento e o conflito Israel-Palestina, por Christian Dunker
Judith Butler e a crítica judaica do sionismo, por Soraya Smail
A Palestina apagada do mapa, por Guilherme Boulos
A ocupação é a atrocidade, por Edward Said
Existências diaspóricas. Caminhos que convergem, por Juliana Borges
TV BOITEMPO
RÁDIO BOITEMPO
Deixe um comentário