Judith Butler, no olho do furacão + promoção
Foto: Stefan Gutermuth/Divulgação
Por Amanda Palha
Durante sua última visita ao Brasil para um seminário sobre os fins da democracia, Judith Butler foi alvo prioritário de uma horda ensandecida que, aos gritos de “queimem a bruxa”, ateou fogo a um boneco com sua efígie. A experiência de se ver como figura de proa de uma “ameaça de gênero” instou a escrita deste livro, que chega primeiro ao público brasileiro trazendo um trabalho analítico contundente e politicamente propositivo sobre o crescimento do fascismo e suas relações com os movimentos antigênero no mundo.
No olho do furacão dos acontecimentos mais inflamados da atualidade, Butler decifra a fantasia psicossocial que aglutina tantos medos e ansiedades em torno desse bicho-papão chamado gênero. Para tanto, se debruça sobre uma ampla gama de frentes, tais como as matrizes clericais do movimento antigênero; os debates legislativos em torno dos direitos reprodutivos e sexuais; as ofensivas de feminismos transexcludentes; os desafios teóricos sobre o caráter socialmente construído do gênero; o papel das ciências biomédicas; e os efeitos do racismo e da colonialidade.
É impossível compreender a luta contra o fascismo sem entender as políticas de gênero, e vice-versa. Eis uma das lições fundamentais desta obra tão provocativa quanto profunda. Daí a importância de defender políticas de gênero antirracistas e contracoloniais que transcendam a esfera liberal dos direitos individuais. Só assim, insiste Butler, a teoria de gênero poderá produzir respostas efetivas (e ser reconhecida como produtora de respostas) para as origens reais das ansiedades e medos de destruição que a retórica da extrema direita contemporânea mobiliza contra nós.
O que Quem tem medo do gênero? nos oferece é muito mais – e muito maior – que um conjunto de excelentes análises e contribuições teóricas sobre a confluência entre o novo fascismo e as políticas antigênero. Navegando pelos meandros das discussões táticas e estratégicas do fazer revolucionário, Butler nos conclama à construção efetiva de coalizões, ao agir coletivo e coletivamente pensado. Trata-se de um manifesto para a conversão da resistência em enfrentamento ativo, embasado na mais revolucionária solidariedade de classe. Afinal, a obra disseca os fundamentos psicossociais do “fantasma do gênero” não como puro exercício teórico ou retórico, mas como forma de firmar as bases para construir as pontes de que precisamos para viabilizar um outro amanhã.
Se dizem não ser possível discutir gênero hoje sem dialogar de alguma forma com as contribuições de Judith Butler, este livro nos lembra que tampouco é recomendado discutir estratégia e tática feministas, antifascistas e antissistêmicas sem visitar sua afiada prosa filosófica. Quem tem medo do gênero? é, em suma, uma contribuição imprescindível para encarar os desafios do nosso tempo.
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Quem tem medo do gênero?, de Judith Butler
Neste seu primeiro livro não acadêmico, Judith Butler analisa como o “gênero” se tornou central em discursos conservadores e reacionários, um fantasma com o objetivo de criar pânico moral e angariar apoio popular a projetos políticos fascistas, autoritários e excludentes.
Intervenção essencial em uma das questões mais inflamadas da atualidade, Quem tem medo do gênero? é uma convocatória arrojada a construir uma coalizão ampla contra as novas formas do fascismo. “É crucial que a política de gênero se oponha ao neoliberalismo e a outras formas de devastação capitalista e não se torne seu instrumento”, insiste Butler.
“Só mesmo o intelecto e confiança moral deslumbrantes de Judith Butler para nos orientar no labirinto de projeções, confissões, deslocamentos e cooptações que constituem as atuais guerras travadas em torno do gênero. É o sonho de um poder masculinista autoritário ultrapassado que une as diversas frentes dessa batalha – e somente a solidariedade entre todas as pessoas que se encontram na mira do fascismo pode nos salvar. Este livro é uma intervenção profundamente urgente.”
— Naomi Klein
“A filosofia de Judith Butler desafia as normas estabelecidas, promovendo diálogos cruciais sobre identidade e igualdade. É leitura fundamental para nos ajudar a construir uma sociedade verdadeiramente emancipatória.”
— Erika Hilton


A força da não violência, de Judith Butler
Desafiando conceitos tradicionais de violência, a obra propõe uma ética da não violência enraizada na valorização da vida e da interdependência. Uma análise profunda sobre como as estruturas sociais frequentemente perpetuam a violência, exigindo uma nova perspectiva ética e política.
Caminhos divergentes, de Judith Butler
Análise da coexistência entre judeus e árabes, desafiando paradigmas e propondo um modelo pós nacional. Inspirado por pensadores como Hannah Arendt e Edward Said, articula uma nova ética política, que transcenda a judaicidade exclusiva e dê conta dos ideais de convivência democrática radical.
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Amanda Palha é travesti biológica, desenvolvedora de automação robótica, ativista e Trv. em Estudos de Gênero. Bissexual, transtornada, não-mono e mãe. É autora do dossiê de capa da Margem Esquerda #33, sobre marxismo e lutas LGBT.
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