Douglas Barros: "A preciosidade de 'Ficção americana' foi a de demonstrar o antirracismo reduzido à lógica comportamental cuja característica é o não questionamento da própria ideia de raça. Um culturalismo difuso, repousado no juízo de que é possível criar uma cultura antirracista sob o regime capitalista através de manuais." [...]
Douglas Barros: "Žižek, tão contundente ao identitarismo, despediu-lhe por uma porta – a de defesa dos direitos humanos – para fazê-lo entrar por outra – a de defesa da civilização europeia. Permaneceu, portanto, preso ao paradigma do Estado sem a crítica da economia política. Por isso, optou desde sempre pelo pré-marxismo." [...]
Douglas Barros: "Enredados na teia da adesão dos ideários representados pela indústria cultural – que é só parte de um todo chamado sociedade do espetáculo – nossos felizes progressistas se dão por satisfeitos com os enunciados conscientes. No filme são vários, dentre os quais um feminismo adocicado e brandas referências ao socialismo – aliás, totalmente à revelia do que ocorre na obra homônima de Alasdair Gray utilizada para construir o roteiro. Isso basta para tornar o nicho progressista satisfeito." [...]
Douglas Barros: "O fetichismo da mercadoria foi a compreensão que Marx teve de que o capital se tornou o novo deus. Ele fundamenta as bases e movimenta a sociedade onde reina a mercadoria, dá a impressão que os produtos do trabalho humano se tornam autônomos ante seus produtores pelas forças irreconhecíveis do capital e do mercado, organizando a própria subjetividade dos indivíduos." [...]
Douglas Barros analisa "História e consciência de classe" em seu centenário: "Lukács anteviu aí a capacidade que o capitalismo tinha, tem e terá enquanto existir, de condicionar a consciência do indivíduo à realização de sua valorização." [...]
Douglas Barros: "Vinícius Jr. se tornou o bode expiatório de promoção ao engajamento de vários fascistas espanhóis e qualquer possibilidade de romper com esse ascenso não está nas suas mãos ou nos seus pés. Não se limita às quatro linhas. Requer uma mobilização coletiva de jogadores e torcedores que ainda defendem a igualdade fundamental como valor inegociável e são ardorosamente antifascistas." [...]
Douglas Barros e Thiago Rodrigues comentam a atualidade de "O ser e o nada": "Eis aqui uma tradução possível para o famigerado conceito de liberdade em Sartre; a possibilidade de abrirmos caminhos mesmo diante da mais absoluta prisão que, invariavelmente, reside em nós mesmo e naquilo que desejamos. Enfim é preciso reaprender a imaginar, passo fundamental à descolonização de nosso imaginário. Enquanto estivermos nesse inferno, Sartre segue sendo um Virgílio fundamental! Viva os oitenta anos de Ser e Nada!" [...]
Douglas Barros: "O trabalho intelectual, que se dissocia do trabalho braçal, é apenas uma das contradições que dirige o processo no qual as sutilezas metafísicas da mercadoria governam o inconsciente geral." [...]