Autor: Alfred Sohn-Rethel
Prefácio: Olgária Matos
Orelha: Vladimir Safatle
Capa: Matheus Rodrigues
Páginas: 232
Assine agora!“Alfred Sohn-Rethel foi o primeiro a chamar a atenção para o fato de que na atividade universal e necessária do espírito, se esconde incondicionadamente trabalho social.” – Theodor W. Adorn
Qual a relação entre dinheiro e conhecimento? Nesta genealogia da separação entre trabalho intelectual e manual, Alfred Sohn-Rethel revela as afinidades estruturais e estruturantes entre as abstrações conceituais do pensamento ocidental e a forma mercadoria. Um dos principais textos da teoria marxista do pós-guerra, Trabalho intelectual e manual exerceu influência decisiva sobre os principais autores da chamada Escola de Frankfurt, como Theodor Adorno e Walter Benjamin.
Sohn-Rethel desenvolve a tese ousada de que a análise marxiana da mercadoria é chave não só da crítica da economia política, mas também da origem histórica do próprio pensamento conceitual ocidental e da divisão entre “cabeça e mão” que dele decorre: “a separação entre trabalho intelectual e manual é tão imprescindível para a dominação da classe burguesa quanto a propriedade privada dos meios de produção.” Ao cunhar o conceito de “abstração real” e reposicionar as discussões sobre ciência, técnica e epistemologia no campo marxista, a obra de Sohn-Rethel apresenta fertilidade duradoura para a filosofia crítica contemporânea, inspirando autores como Slavoj Žižek, Anselm Jappe, Antonio Negri e Giorgio Agamben, entre outros.
Fruto de mais de cinquenta anos de elaboração e reelaboração, Trabalho intelectual e manual chega pela primeira vez às livrarias brasileiras com tradução direta do alemão feita a partir da edição mais recente da obra, consolidada após detalhada revisão do autor. Com prefácio de Olgária Matos e orelha de Vladimir Safatle, a edição da Boitempo vem incrementada de preciosos anexos que documentam a rica interlocução de Sohn-Rethel com Adorno e Benjamin.
“A explicação materialista histórica da origem da forma de conhecimento científico e seu desenvolvimento é um dos campos que tornam necessária uma ampliação de escopo da teoria marxista. Outro motivo é a falta de uma teoria do trabalho intelectual e do trabalho manual, de sua separação histórica e das condições para uma possível unificação. Já na Crítica do programa de Gotha, Marx menciona, entre os pressupostos de uma “fase superior da sociedade comunista”, o desaparecimento da “subordinação opressora dos indivíduos à divisão do trabalho e, assim, da oposição entre trabalho intelectual e trabalho manual”. No entanto, não será possível entender as condições das quais depende o desaparecimento dessa oposição, sem antes descobrir as origens de sua formação histórica. A teoria marxista, contudo, não oferece nada para lidar com isso. De fato, a oposição entre trabalho intelectual a trabalho manual perpassa, de uma forma ou de outra, toda a história da sociedade de classes e da exploração econômica. Essa oposição é uma das manifestações da alienação, da qual vive a exploração, como a planta vive do nitrogênio. Ainda assim, não é nada evidente por que uma classe dominante, invariavelmente, tem sempre à disposição a forma específica de trabalho intelectual de que necessita. Embora as raízes disso estejam ligadas à estrutura da dominação de classes, esse trabalho intelectual requer determinado grau mínimo de independência mental para ser útil à classe dominante. Além disso, os trabalhadores intelectuais, sejam sacerdotes, sejam filósofos ou cientistas, não são detentores nem principais beneficiários da dominação, à qual prestam sua contribuição indispensável. O caráter de conhecimento objetivo do trabalho intelectual e mesmo o próprio conceito de verdade surgem na história no curso da separação entre cabeça e mão, que, por sua vez, faz parte da divisão de classes na sociedade. A objetividade e a função de classe do conhecimento de tipo intelectual estão assim essencialmente ligadas e só podem ser compreendidas em sua conexão mútua. Mas quais são as implicações desse fato para a possibilidade de uma sociedade sem classes moderna, baseada em um alto grau de desenvolvimento tecnológico?
Alfred Sohn-Rethel
Alfred Sohn-Rethel foi um economista e filósofo alemão nascido na França, em 1899. Viveu até os doze anos em Düsseldorf, na Alemanha, e anos depois formou-se na Universidade de Heidelberg, concluindo o doutorado em 1928. Envolvido em atividades antinazistas, foi preso pela Gestapo em 1936. Passou mais de três décadas na Inglaterra, onde foi professor de filosofia social na Universidade de Bremen. Seus escritos exerceram grande influência sobre Adorno e Benjamin, dada sua proximidade com o círculo de Frankfurt. Sohn-Rethel morreu em 1990, na Alemanha. Sua principal obra, Trabalho intelectual e manual, é publicada pela primeira vez no Brasil pela Boitempo, em 2024.
Na TV Boitempo, Douglas Barros explica o conceito de “fetichismo da mercadoria”.