Desde Fanon
O psiquiatra e revolucionário martinicano Frantz Fanon (1925-1961) é o objeto desta coletânea de Deivison Faustino e Muryatan Barbosa. Desde Fanon reúne seis capítulos sobre o revolucionário e busca analisar e atualizar questões colocadas por ele e ainda latentes em nosso tempo, como a relação entre capitalismo, racismo e colonialismo.
Apesar da possibilidade de leitura dos textos em separado, a organização feita pelos autores ganha lógica e continuidade. Os dois primeiros buscam explorar interpretações possíveis do pensamento de Fanon, destacando questões de suas formulações intelectuais: Fanon e a configuração colonialista (Muryatan) e Hegel, Fanon e a (suposta) interdição da dialética (Deivison). Os capítulos três e quatro aplicam algumas dessas interpretações e analisam diferentes temáticas: Tortura e configuração colonialista: uma leitura fanoniana do livro Tortura na colônia de Moçambique (1963-1974) (Muryatan); e Freud, Fanon e o mal-estar colonial (Deivison, em parceria com a psicanalista e professora Miriam Debieux). Os dois últimos textos, Homi Bhabha leitor de Frantz Fanon: acerca da ‘prerrogativa pós-colonial’ e do Fanon ‘pós-colonial’ (Muryatan) e Frantz Fanon teórico da tecnologia digital (Deivison, escrito em parceria com o historiador Walter Lippold), apresentam um diálogo com outros estudiosos de Fanon e que revisitam seu pensamento por perspectivas distintas.
“Acontecimentos recentes como o genocídio e a limpeza étnica na Palestina, as ameaças de anexação do Canadá e da Groenlândia e, sobretudo, a intensificação dos conflitos armados em torno do cobalto na República Democrática do Congo, entre outros, explicitam a atualidade da teoria fanoniana e a necessidade de retomar alguns trabalhos que sistematizam sua teoria”, escrevem os autores na apresentação.
Trecho
“Ao contrário do que se supõe, em Fanon a dialética do reconhecimento é um traço humano fundamental à nossa constituição como sujeitos, não isento de conflitos e contradições com o outro e consigo. É na relação contraditória com o (outro) exterior que se produz o Sujeito, ele próprio produto e ao mesmo tempo produtor desta mesma relação. Por essa razão, não há servo sem senhor nem senhor sem servo, ou seja, o Sujeito não existe sem seu objeto e, de certa forma, é subordinado à medida em que é transformado por ele”.
Escritos políticos
Exibindo uma prosa vigorosa, ao mesmo tempo cortante e poética, esta coletânea de artigos retrata a resistência anticolonial na Argélia. Expõe a brutalidade do colonialismo e a força da luta pela libertação, revelando uma análise concreta e uma crítica contundente que ecoam nas lutas contemporâneas.
Publicado pela primeira vez no Brasil e com tradução direta do francês, Escritos políticos abrange uma seleção de artigos jornalísticos de Frantz Fanon. Redigidos originalmente para o El Moudjahid, jornal da Frente de Libertação Nacional da Argélia, do qual Fanon foi colaborador de 1957 a 1960, os textos acompanham o cotidiano do colonialismo francês na Argélia, o desenvolvimento da luta pela libertação nacional do povo argelino e a formação do movimento internacional dos países colonizados e do terceiro mundo em meados do século XX.
Exibindo uma prosa vigorosa, ao mesmo tempo cortante e poética, os artigos reunidos nesta obra trazem ao leitor os desdobramentos teóricos ocorridos em uma fase decisiva do pensamento de Fanon. Além disso, deixam ver seu trabalho de agitação política e sua visão estratégica a respeito de conflitos de grande escala que, a seu ver, abriam um horizonte de cura revolucionária para a alienação da humanidade.
Trecho
"Por sua própria natureza, a revolução argelina não pode deixar de brilhar e suscitar ajuda e simpatia no exterior. Foram-se os tempos sombrios em que a mártir Argélia gemia como numa imensa masmorra. Quebrando as correntes e as grades, o povo argelino retomou o contato com os povos irmãos. A revolução argelina, segura do apoio de todas as forças de liberdade, já é vencedora. Todas as estratégias colonialistas estão fadadas ao fracasso. Não está longe o dia em que toda a Argélia estará interditada para o Exército francês."