No 31º volume da coleção Marx-Engels, a Boitempo publica a primeira tradução brasileira diretamente do original em alemão do célebre Capítulo VI do Livro I de O capital. Parte do primeiro manuscrito da obra-prima de Marx, o texto intitulado “Resultado do processo de produção imediato” encerraria o volume I e serviria de ponte para o volume II.
Nele são apresentados de maneira substancial pontos centrais da reflexão marxiana: “Marx refere-se à mercadoria de maneira bastante concreta, não somente como um pressuposto para a produção capitalista, mas como resultado de seu processo produtivo. [...] Por outro lado, analisa as formas diversas do fetichismo típicas da sociedade do capital, expressão da peculiar divisão social do trabalho mediada pelas coisas, mostrando os reflexos desse fetichismo nas interpretações dos economistas burgueses”, contam Ricardo Antunes e Murillo van der Laan no texto de apresentação.
Produzido numa fase decisiva do desenvolvimento intelectual de Marx, o Capítulo VI condensa alguns dos principais momentos da argumentação do autor em O capital, que na versão final da obra, concebida como um “todo artístico”, se espraiam por várias seções. Por isso, oferece um ponto de vista privilegiado para temas como a operação concreta da mercadoria, presente sobretudo no Livro III, ou para a reflexão sobre a subsunção formal e a subsunção real do trabalho ao capital, ponto crucial da elaboração e do procedimento metodológico de Marx.
O volume traz ainda, como apêndice, o “Questionário para trabalhadores”, mais conhecido como “Enquete operária”. Nele sobressai a preocupação de Marx com o cotidiano da classe trabalhadora. Redigido para La Revue Socialiste e propagada entre os trabalhadores franceses, o questionário tinha como objetivo evidenciar, de maneira metódica, as contradições e os privilégios do capital e apresentar aos trabalhadores as possibilidades de resistência frente à exploração à qual eram submetidos. A enquete serviu, ainda no século XIX, de modelo para outros questionários semelhantes na Europa. Ao longo do século XX foi inspiração para movimentos socialistas e pesquisadores em diferentes países e, no século XXI, continua a demonstrar sua vitalidade, no contexto dos processos de trabalhos uberizados e plataformizados.