O 24º Título da coleção Marx-Engels traz a tese doutoral de Marx, apresentada pelo autor à Universidade de Jena em 1841. Um Marx como você nunca viu: na direção oposta da cristalização histórica de sua imagem como teórico e militante da revolução comunista, o filósofo alemão busca tirar as consequências da ciência da natureza para pensar as condições da liberdade humana. A obra foi traduzida por Nélio Schneider e traz ilustração de capa de Gilberto Maringoni. A defesa da filosofia da natureza de Epicuro contra a de Demócrito que o leitor testemunha nessa obra representa um ataque indireto a um quadro de repressão e retrocesso político, a “miséria alemã”, como era chamada por Marx, um conjunto de mazelas políticas e sociais que colocava o país numa condição de atraso histórico em relação à modernização liberal da Europa, somado a um ambiente de censura e perseguição a seus opositores mais radicais.
Desfazendo o lugar-comum do determinismo materialista de Epicuro, Marx considera sua filosofia a realização da “autoconsciência humana como a divindade suprema”. E, na medida em que recusa toda autoridade acima do homem, faz da “liberdade da autoconsciência” o princípio de toda a realidade. Do mesmo modo, a negação da divindade não deixa de ser também uma tomada de posição em favor da filosofia (ou do pensamento livre) contra “o entendimento teologizador”. Nesse sentido, a tese promove uma defesa radical da liberdade da ação e do pensamento contra o materialismo mecanicista, mas também contra as “filosofias positivas” da natureza que alimentavam o conservadorismo político e cultural alemão.
As pretensões acadêmicas de Marx seriam, no entanto, inteiramente frustradas. Com o acirramento da repressão política, os jovens hegelianos seriam expulsos da universidade e proibidos de exercer a docência. Perdia-se assim um eminente professor de filosofia helenista, mas abria-se o caminho para o grande projeto de compreensão e crítica dos fundamentos da sociedade burguesa.