Este não é um livro sobre filmes de guerra. Vai muito além disso. Se para o lendário diretor de cinema Samuel Fuller, ele mesmo um ex-soldado, “O cinema é como um campo de batalha”, Paul Virilio nos mostra que a guerra também tem muito de cinema. Ele analisa o desenvolvimento, surpreendentemente paralelo, dessas duas técnicas - desde a invenção dos irmãos Lumière e da Primeira Guerra Mundial -, concluindo que a real vitória em uma guerra, a dos “corações e mentes”, passa tanto pelo campo de batalha quanto pelo das imagens.
Virilio esmiúça a evolução histórica do cinema e da arte militar no século XX, principalmente nas duas guerras mundiais e na Guerra Fria, estudando temas como o aprimoramento da técnica cinematográfica para o reconhecimento das áreas de combate e as relações entre a indústria do audiovisual e a indústria bélica.
Lançado pela coleção Estado de Sítio, coordenada pelo filósofo Paulo Arantes, e traduzido por Paulo Roberto Pires, o livro trata, entre outras abordagens inovadoras do autor, do uso e fascínio dos nazistas pelas imagens como propaganda (Leni Riefenstahl e O triunfo da vontade) até Guerra nas estrelas, filme e projeto bélico da era Reagan; da participação de cineastas nos conflitos de trincheira na Primeira Guerra (Griffith) até o apocalipse nuclear do Dr. Fantástico, de Stanley Kubrick. Virilio explora as tênues fronteiras e o diálogo constante entre a realidade dos conflitos armados e as suas representações.
Na era da multiplicação de telas e imagens no cotidiano, do terrorismo transmitido via satélite, em que a “guerra sem fim” de Bush é um reality show sangrento, um espetáculo midiático - envolvendo a ficção das armas de destruição em massa, o vilão Saddam Hussein e a ameaça terrorista -, nada mais oportuno que este lançamento. Nestes tempos, em que a veiculação das imagens dos horrores bélicos cumpre papel protagonista, este livro, publicado em francês na década de 1980, é uma arma poderosa.