Um misterioso pacote de cartas entregue à escritora Susan Willis é o ponto de partida deste livro que, por meio da reprodução dessas cartas, conta a história de um relacionamento amoroso. Susan se apaixonou pela prosa da Bela Adormecida - pseudônimo utilizado pela autora das cartas, cuja identidade é desconhecida - e mergulhou fundo em seus múltiplos significados. O resultado desse arrebatamento é o surpreendente Cartas a Legba.
Carregadas de desejo, as cartas desenvolvem em tom de fábula a trajetória do amor entre Bela e Legba, seu amante e destinatário. Ousadas e provocativas, as cartas desafiam o receptor, o censuram e o elogiam, terminando sempre com um convidativo “a seguir”, que instiga a leitura da carta seguinte.
Bela registra os acontecimentos de sua vida, entremeando-os com relatos de seus sentimentos. Dessa forma, não se furta a dividir com o amante aspectos de seu cotidiano, como o trabalho e as mudanças de estação. A aparente simplicidade de sua fábula encobre a complexidade de sentimentos e subjetividades presentes nas cartas. A autora se apresenta como uma mulher multifacetada, capaz de encarnar vários papéis e nada inocente.
O posfácio do livro, escrito por Maria Elisa Cevasco, traduz os sentimentos de Bela e gera uma identificação imediata com o público leitor, especialmente o feminino. Quem nunca tentou dar sentido à experiência do amor, entendê-la, recontá-la? Para Maria Elisa, além da história, sobressai nas cartas “a dor enorme de dizer e, ao dizer, limitar e negar”.
A coragem de Bela está em assumir de forma escancarada seus desejos. Nesse sentido, Cartas a Legba cumpre um papel emancipador. Sua beleza está, nas palavras de Maria Elisa, em empreender a “tarefa necessária e impossível de tentar explicar o que se recusa a ser contido por palavras”.