A série Perfis, da Coleção Pauliceia, presta uma homenagem a um dos mais importantes intelectuais brasileiros: Florestan Fernandes, que talvez seja quem mais teve sua história pessoal entrelaçada ao desenvolvimento da reflexão crítica paulistana.
O jornalista Haroldo Ceravolo Sereza, num estilo claro e fluente, percorre os principais pontos da vida intelectual e política de Florestan, da vida pessoal, da evolução da sua obra acadêmica e da militância do fundador da Escola Paulista de Sociologia.
Ao longo dessa trajetória, o autor trata das relações de Florestan com Oswald de Andrade, Roger Bastide, Fernando Henrique Cardoso, Octavio Ianni, Lula, o PT, de seu exílio no Canadá, e da amizade com Antonio Candido. Como não podia deixar de ser, tratando-se de Florestan Fernandes, o livro acaba sendo também um depoimento sobre a história da Universidade de São Paulo e do ambiente intelectual na cidade a partir da década de 1930.
Com imagens inéditas, narra a infância e a trajetória de Florestan - que, filho de mãe solteira e imigrante, viveu em cortiços e começou a trabalhar aos 6 anos - e como sua história se confunde com a história da USP. Fundada pela e para a elite paulista, a universidade acabou tendo seus aspectos mais originais e interessantes justamente nas fissuras desse plano, quando pessoas de origem social e visão de mundo muito distintas dos liberais conservadores paulistas que a criaram passaram a frequentá-la.
Ninguém personifica as qualidades, as possibilidades frustradas e as contradições desse projeto de universidade melhor que Florestan Fernandes: por sua disciplina e sua dedicação à construção das ciências sociais no Brasil, por seu crescente engajamento na vida pública e por sua luta contra a repressão ao pensamento crítico deflagrada pela burguesia conservadora, por meio dos militares, após o golpe de 1964. Essa perseguição culminou na sua aposentadoria compulsória da universidade, em 1968, com o AI-5.
Daí surge um Florestan ainda mais forte na atividade de intelectual público, pensador político, jornalista e editor. Ele acabaria se filiando ao PT, não sem antes dizer que não se curvaria ao “Deus operário” (referia-se a Lula) e apontar os riscos de o partido guinar para a socialdemocracia.
Um livro essencial para entender a trajetória de um intelectual que somou a dedicação e o rigor de uma importante obra acadêmica com as lutas políticas fundamentais do seu tempo.