Em maio de 2012, o governo brasileiro instalou a Comissão Nacional da Verdade, que durante dois anos deverá apurar as violações dos direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988. Este Número 19 da revista Margem Esquerda dedica seu Dossiê à análise desse evento, mais especificamente das violências ocorridas durante a ditadura militar brasileira (1964-1985). Coordenado pelo historiador Luiz Bernardo Pericás, conta com textos de Angélica Lovatto, doutora em ciência política, Edson Teles, filósofo, Ricardo Gebrim, advogado, e Tatiana Merlino, jornalista.
Também sobre o mesmo tema versam as questões do cientista social Paulo Barsotti na entrevista com o historiador José Luiz Del Roio, eleito senador em 2006, na Itália, pelo Partido da Refundação Comunista.
Na seção "Artigos", o sociólogo Celso Frederico nos brinda com um texto sobre a relação entre literatura e sociedade no campo marxista. De caráter ao mesmo tempo erudito e didático, “Os marxistas e a literatura: roteiro de leituras” fundamenta um posicionamento particular acerca de alguns dos mais importantes críticos do capitalismo – de Marx a Lukács – que tiveram na literatura, na arte e na cultura dimensões essenciais de análise. Michael Löwy discorre sobre outro importante marxista em “A revolução é o freio de emergência: a atualidade político-ecológica de Walter Benjamin”.
De Norman Madarasz, filósofo canadense, lemos uma instigante reflexão histórica, econômica e filosófica sobre a greve estudantil e a história recente de Quebec, a chamada “Primavera Québécoise” ou “Printemps Érable”. As crises orgânicas na obra de Antonio Gramsci, por sua vez, tomando como fio condutor os Cadernos do cárcere, são o tema do doutor em Serviço Social Rodrigo Castelo, que traça um panorama do contexto histórico do entreguerras (1918-1939) e analisa as principais notas que o comunista italiano redigiu na prisão sobre as crises capitalistas e seus desdobramentos econômicos, políticos e culturais.
“Flores Galindo e Vargas Llosa: um debate fictício sobre utopias reais” faz uma comparação da proposta radicalmente liberal de Mario Vargas Llosa com o marxismo heterodoxo defendido por Alberto Flores Galindo, autor da obra fundamental Buscando um inca. Nesse artigo, o historiador peruano José Luis Rénique observa como os problemas colocados à nação moderna pela emergência do Sendero Luminoso foram tratados de forma oposta por ambos os autores. Em outro dos artigos deste Número, o sociólogo Cristiano Ramalho analisa, a partir de uma abordagem etnográfica sustentada na categoria trabalho de Lukács, as razões que levam um grupo de pescadores a compreender seu trabalho como arte e liberdade. Por fim, é também sobre liberdade de expressão, que trata o artigo de Glauber Piva, sobre a constituição de um novo marco regulatório das comunicações no Brasil.
Na seção "Poesia", o escritor e professor de literatura Flávio Aguiar apresenta um singelo escrito de Sissi, a princesa bávara que casou com o futuro imperador austríaco. Conhecida como “a imperatriz anarquista”, Sissi era romântica, admiradora de Heinrich Heine, odiada pela aristocracia vienense, simpática à independência húngara e italiana.
As imagens, selecionadas pelo artista plástico Sergio Romagnolo, são de Cildo Meireles, que despontou no início dos anos 1960 transitando entre a corrente neoconcreta brasileira e aquilo que viria a ser entendido depois como arte conceitual. De forte cunho social, seus trabalhos levantam questões estéticas e poéticas e, durante os anos 1970 e 1980, foram veículo de severas críticas do artista ao regime militar.
Com textos dos historiadores Osvaldo Coggiola e Virgínia Fontes, Margem Esquerda presta tributo ao historiador britânico Eric Hobsbawm e ao cientista político brasileiro Carlos Nelson Coutinho, membro do comitê de redação desta revista e autor do livro De Rousseau a Gramsci: ensaios de teoria política, publicado em 2011 pela Boitempo.
A esses dois grandes homens, que o pensamento crítico perdeu neste semestre, é dedicada esta edição.