Brasil, crescimento ou estagnação? Desenvolvimento ou desindustrialização? Em ano de eleições, polarizadas como poucas vezes se viu, a edição 23 da revista Margem Esquerda se propõe a discutir o presente e o futuro de nosso país. “Onda conservadora” de um lado – representada pela figura do tucano Aécio Neves – e a resistência democrática de outro, formada em torno da petista Dilma Rousseff, colocam em pauta diferentes projetos ou distintas nuances para o Brasil.
Quais as causas e quais as extensões das turbulências que acometem a economia nos dias que correm? O dossiê “Brasil, que desenvolvimento?”, centrado no principal embate teórico no campo da economia latino-americana – o novo-desenvolvimentismo versus o social-desenvolvimentismo – e organizado pela economista Sofia Manzano, apresenta visões plurais nos artigos do ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira e dos professores Luiz Filgueiras, Marcio Pochmann e Rodrigo Castelo.
Mantendo o foco no universo brasileiro, a entrevistada deste Número é a historiadora Emilia Viotti, que falou a Milton Pinheiro e Paulo Barsotti sobre sua trajetória, seus estudos historiográficos e as recentes transformações políticas no Brasil. Abrimos a seção de artigos com “O sujeito e a teoria social: Marx e Lukács sobre Hegel”, do historiador canadense Moishe Postone. Na sequência, o cientista político Francisco Farias trata da política de classe como um padrão em ascensão na democracia brasileira, e o historiador britânico Perry Anderson reflete sobre o movimento de massas ao se debruçar na trajetória e no pensamento do dirigente comunista Lucio Magri. O sociólogo Emir Sader se inspira em Ruy Mauro Marini para abordar a dialética da hegemonia e, fechando a seção, o escritor britânico China Miéville, doutor em relações internacionais, estreia em nossa revista com um ensaio sobre literatura fantástica.
Um especial, organizado por Ricardo Antunes, saúda os 150 anos de fundação da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT). Com textos do sociólogo Michael Löwy e do cientista político italiano Marcello Musto, a história da I Internacional é retomada deixando evidente a pertinência, em tempos atuais, dos temas que animaram os debates no século XIX.
O texto clássico deste vigésimo-terceiro Número remete ao centenário de um dos grandes dilemas da esquerda mundial. Foi quando, na Alemanha, a social-democracia – engajada na II Internacional – se somou à burguesia e aprovou os créditos de guerra, que possibilitariam o incremento da aventura belicista da I Guerra Mundial. O episódio acentuou a divisão entre comunistas e social-democratas e representou o prenúncio da derrota da revolução alemã. Esse revés isolou a nascente Revolução Russa e impediu que tivesse início uma onda transformadora na Europa. Em “A guerra e a social-democracia da Rússia”, Vladimir Lenin expõe a posição dos bolcheviques em relação à guerra imperialista que se tinha iniciado.
Sobre guerras também fala a seção de poesia, que traz soneto de Albrecht Haushofer, um dos envolvidos no atentado contra Adolf Hitler, que em julho último completou setenta anos. Traduzida e apresentada por Flávio Aguiar, a composição integra a série de Moabit, onde o poeta esteve preso até ser assassinado pelo exército nazista. Insurgências contemporâneas são o tema da resenha de O novo tempo do mundo, de Paulo Eduardo Arantes, escrita pelo professor de teoria literária Francisco Foot Hardmann. Notas de leitura vão assinadas por Pedro Davoglio e Silvio Luiz Almeida.
As ilustrações, cedidas pela pesquisadora Graziela Forte e selecionadas por Sergio Romagnolo, são de Carlos Prado (1908-1992), irmão mais novo de Caio Prado Júnior. Embora tenha militado no Partido Comunista, na década de 1930, Carlos se afastou da política e, com Flávio de Carvalho, Antonio Gomide e Di Cavalcanti, fundou, em 1932, o Clube de Artistas Modernos. Sua produção compreende os álbuns Memórias sem palavras: infância e A cidade moderna, além de centenas de obras feitas com técnicas diversas. As imagens que exibimos neste Número fazem parte do álbum A cidade moderna, produzido em 1958, que contém doze gravuras em metal e poemas focados no tema da metrópole.
O escritor colombiano Gabriel García Marquez, o Gabo, falecido em 17 de abril, é o personagem da seção Homenagem. A escrita sensível de Roniwalter Jatobá é nossa forma de prestar tributo a um dos escritores mais profícuos da América Latina. A edição homenageia ainda Plínio de Arruda Sampaio, deputado cassado em 1964 e eleito pelo PT em 1986, dirigente partidário e principal figura pública do PSOL. Plínio, que morreu no último 8 de julho, fez uma transição política singular: saiu do Partido Democrata Cristão (PDC) e se tornou, ao longo dos anos, um respeitado ativista de esquerda. Aos 80 anos, percorreu o Brasil como candidato à presidência da República. Um homem raro, desses que marcam a vida nacional. Registramos também a perda de Dirceu Travesso, fundador do PSTU, líder da oposição sindical bancária de São Paulo e um dos principais articuladores da Rede Intersindical de Solidariedade Ativa. Por quase quarenta anos, Didi foi um ativista socialista, revolucionário e internacionalista. A eles, que consagraram seus dias a fazer deste um mundo melhor, dedicamos esta edição.