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“A grande inovação da versão liberal do conceito foi combinar formas separadas de opressão com base nas semelhanças das doutrinas que as legitimavam. A palavra ‘racismo’ conectou as crenças antissemitas que estavam no núcleo do nazismo, os sistemas de crenças que justificavam o colonialismo europeu e as crenças supremacistas brancas ligadas ao tratamento dado aos negros nas sociedades pós-escravistas das Américas. As analogias entre essas doutrinas foram fundamentais para o antirracismo liberal. Mas o método da analogia não foi aplicado de modo homogêneo. Como os usos liberais da palavra ‘racismo’ derivavam da tentativa de compreender o nazismo, havia uma tendência dos pensadores liberais de entender os outros racismos pelas lentes desse paradigma, e não o contrário. Além disso, o próprio nazismo era compreendido de maneira particular: como uma questão de ódio alimentado pela propaganda que corrompia a razão liberal ao explorar preconceitos irracionais preexistentes, talvez exacerbados por dificuldades econômicas, como os liberais supunham ter ocorrido na Alemanha nos anos que precederam a tomada do poder pelos nazistas”.
“Podemos ver mais claramente o que Trump representa se pensarmos no fascismo da maneira proposta pelos antirracistas radicais. Para Césaire e James, o fascismo não se restringia a um momento de colapso, no qual a nação decai no autoritarismo, mas, mais fundamentalmente, à violência racista que órgãos governamentais administravam cotidianamente. Historicamente, formas de violência estatal semelhantes às do fascismo estiveram presentes em contextos coloniais por longos períodos, atuando por meio de instituições nominalmente liberais, antes que essa conjunção se desfizesse, abrindo caminho para a destruição de governos liberais na própria Europa. De maneira similar, no caso estadunidense, a ascensão do fascismo nos últimos anos está fortemente ligada às guerras neocoloniais dos Estados Unidos no exterior. Após a Guerra do Vietnã, um movimento de White Power se reuniu em torno dos veteranos, congregando a Ku Klux Klan, neonazistas, skinheads e outros militantes. Desde então, o movimento prospera na rebarba das intermináveis e malsucedidas guerras dos Estados Unidos”.