Nesta obra, o húngaro István Mészáros parte do diagnóstico de que a obra de Marx permaneceu inacabada, e que, portanto, cabe levar adiante o espírito que presidiu sua elaboração, continuando o que ficou por fazer. Seu livro acabou por se tornar uma reavaliação sólida e lúcida de O Capital para os dias de hoje, tarefa que o próprio Lukács chegou a se propor e que não pôde executar.
Como afirma o professor Ricardo Antunes em texto publicado na orelha dessa edição, "se Para além do capital é a obra maior de István Mészáros, quase sem paralelos pela envergadura e pela densidade, neste início do século XXI, em que alguns dos nexos essenciais do capital dos nossos dias foram exaustiva e abundantemente tematizados e demolidos pelo autor, este pequeno livro agora publicado pela coleção Mundo do Trabalho com o Título O século XXI: socialismo ou barbárie? é seu corolário político de combate".
Mészáros denuncia a falsidade da ideia de que chegamos ao fim do imperialismo e da era dos impérios, apresentando uma crítica corajosa e contundente que demonstra a agressividade da política norte-americana em um mundo onde a globalização se caracteriza pela degradação ambiental, pela desvalorização do trabalho, pelos massacres dos povos, pela perda dos sentidos e dos valores de humanidade e de vida social, impondo ao mundo uma política de destruição próxima de seu limite último.
Escrito dois anos antes dos ataques terroristas ao World Trade Center e ao Pentágono em setembro de 2001, o livro acabou por assumir um sentido premonitório. Segundo Mészáros, os atos terroristas e seus desdobramentos são manifestações claras da crise estrutural do capital, gestada a partir da década de 1970 e analisada em detalhe em Para além do capital. Para ele, a ordem cronológica da atual doutrina militar norte-americana "está apresentada de cabeça para baixo".
Ao contrário do que se divulga, não se poderia definir o 11 de setembro de 2001 como um ponto de mudança de rumo radical da política norte-americana. Segundo Mészáros, já na época do presidente Bill Clinton, a política era a mesma, "ainda que de forma mais camuflada".
O que caracterizaria a atual situação é o fato de não ser mais uma condição a ser resolvida com o alinhamento das chamadas grandes potências à posição hegemônica dos Estados Unidos, para a solução de uma situação política conjuntural. Para Mészáros, existe agora uma "relação contraditória entre uma contingência histórica - o capital norte-americano se encontrar hoje em posição preponderante - e a necessidade sistêmica ou estrutural - o impulso irresistível do capital para a integração monopolística global a qualquer custo, mesmo colocando em risco a sobrevivência da humanidade".
Portanto, ainda que seja encontrada uma saída política conjuntural, permaneceria irresolvida e urgente a necessidade sistêmica que emana da lógica da integração monopolística do capital. Mészáros afirma que a elaboração de uma resposta historicamente viável a esses desafios só será possível "pela construção de uma alternativa radicalmente diferente do impulso do capital em direção à globalização imperialista/monopolista, no espírito do projeto socialista, corporificado num movimento progressista de massas".