PARA ALÉM DO CAPITAL – A CRISE ESTRUTURAL DO CAPITAL

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III Seminário Margem Esquerda - Na mesa Frederico Ventura (mediador), Edmilson Costa, Jorge Beinstein e François Chesnais

Dizer que o pior da crise já passou é uma quimera. A avaliação é do economista francês François Chesnais, que participou do III Seminário Internacional Margem Esquerda no último dia 19, em São Paulo, integrando a mesa Para Além do Capital – A crise estrutural do capital, ao lado de Jorge Beinstein, professor de Economia da Universidade de Buenos Aires, e do economista e professor Edmilson Costa.

François Chesnais

François Chesnais

Segundo Chesnais, sempre que o sistema do capital registra queda nas taxas de lucro, ele procura criar condições para retomar a acumulação e a crise vem sendo uma maneira de o sistema se livrar destas travas. Mas há um momento em que a crise se torna inerente ao próprio sistema e datar a crise estrutural do capital é algo que pode ser debatido. Para o filósofo húngaro, István Mészáros – cuja obra foi homenageada no seminário – a crise começa nos anos 1960 e se intensifica brutalmente a partir de 1975.

Já Chesnais acredita que a crise começou entre os anos 1920 e 1930, caracterizando a Primeira Guerra Mundial como o resultado de uma crise da concorrência imperialista. Passando pela crise de 1929 e pela 2ª Guerra Mundial, Chesnais explicou que a partir da crise de 1974/1975, dois eixos foram utilizados para responder a queda na taxa de lucro – a liberalização das regulamentações, associada à globalização para um campo mundial de valorização, e também a integração da China e da então União Soviética no mercado mundial.

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István Mészáros assiste debate na USP-SP

“A acumulação capitalista se repousou nisso, mas o sucesso mesmo desse mecanismo gerou a sobrevalorização do capital financeiro”. Para Marx, o capital financeiro é aquele portador de juros e dividendos. Com este processo desencadeado na década de 1970, esse braço do capital se torna o mais frágil e sensível. Entretanto, o grau de destruição dos recursos naturais e a avidez crescente por fontes de energia mostram que esta não é só mais uma crise financeira ou econômica, mas uma crise sociometabólica do capital, à maneira que Mészáros definiu.

Nesse sentido, o professor argentino, Jorge Beinstein, reforçou que o capitalismo vive um processo de superprodução crônica, que colocará um fim no ciclo de exploração dos recursos naturais. Para ele, isto deve gerar uma tendência descendente na produção energética e uma crise alimentar – que já deu seus sinais e deve voltara cena no próximo período. Beinstein explicou que “a questão ambiental é um produto do capitalismo”. O professor acredita ainda que este pode ser o fim da hegemonia dos Estados Unidos, sem que haja uma outra nação no horizonte para ocupar este lugar. Este cenário, associado a uma hiper-urbanização desordenada e parasitária, coloca o mundo diante de uma crise de civilização, com poucas alternativas no horizonte: socialismo ou barbárie.
Edmilson Costa e Jorge Beinstein

Edmilson Costa e Jorge Beinstein

Edmilson Costa ressaltou que a crise é profunda, devastadora e de longa duração, fazendo um forte contraponto àqueles que defendem que o pior já passou. “As respostas produziram alívio, mas a crise voltará mais forte. Os aspectos que detonaram a crise não foram resolvidos”, disse o professor em relação às medidas governamentais para controlar a crise financeira nos últimos anos. Para ele, porém há um aspecto positivo na crise financeira recente: ela quebrou mitos, cujo poder ideológico era grande e coercitivo, como o da autorregulação do mercado. Para ele, as críticas ao sistema devem se materializar numa profunda transformação social.

Público no auditório de história da FFLCH-USP

Público no auditório de história da FFLCH-USP

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