“A nossa teoria não é um dogma, mas um guia para a ação”

Leia um trecho de "Esquerdismo, doença infantil do comunismo", oitavo volume da coleção Arsenal Lênin que chega ainda este mês aos assinantes do Armas da Crítica - o clube do livro da Boitempo.

Imagem: WikiCommons.

Por Vladímir I. Lênin

Pessoas ingênuas e totalmente inexperientes imaginam que basta reconhecer a admissibilidade dos compromissos em geral para que desapareça qualquer linha divisória entre o oportunismo – contra o qual travamos e devemos travar uma luta intransigente – e o marxismo revolucionário ou comunismo. Mas essas pessoas, se ainda não sabem que todas as linhas divisórias na natureza e na sociedade são móveis e até certo ponto convencionais, não podem ser ajudadas senão por meio do estudo, da educação, da instrução e da experiência política e prática prolongadas. Nas questões práticas que surgem na política de cada momento histórico particular ou específico, é importante saber identificar aquelas em que se manifestam a forma principal dos compromissos inadmissíveis e traidores, que encarnam um oportunismo funesto para a classe revolucionária, e consagrar todos os esforços para explicá-los e combatê-los. Durante a guerra imperialista de 1914-1918, entre dois grupos de países igualmente bandidos e predatórios, a forma principal e fundamental de oportunismo foi o social-chauvinismo, ou seja, o apoio à “defesa da pátria”, que equivalia de fato naquela guerra à defesa dos interesses espoliadores da “sua” burguesia. Depois da guerra, a defesa da espoliadora “Liga das Nações”; a defesa das alianças diretas ou indiretas com a burguesia do país contra o proletariado revolucionário e o movimento “soviético”; a defesa da democracia burguesa e do parlamentarismo burguês contra o “poder soviético” – tais foram as principais manifestações desses compromissos inadmissíveis e traidores, que, no seu conjunto, resultaram num oportunismo funesto para o proletariado revolucionário e para a sua causa.

“Rejeitar intransigentemente qualquer compromisso com os outros partidos […] qualquer política de manobra e conciliação”, escrevem os esquerdistas alemães na brochura de Frankfurt.

É surpreendente que, com tais concepções, esses esquerdistas não condenem com veemência o bolchevismo! Não é possível que os esquerdistas alemães ignorem que toda a história do bolchevismo, antes e depois da Revolução de Outubro, está cheia de casos de manobras, de conciliação e de compromissos com outros partidos, incluindo os partidos burgueses!

Travar uma guerra para derrubar a burguesia internacional, uma guerra cem vezes mais difícil, prolongada e complexa do que a mais encarniçada das guerras habituais entre Estados e renunciar, nessas condições, a manobrar, a aproveitar as contradições de interesses (ainda que temporárias) entre os inimigos, renunciar aos acordos e aos compromissos com possíveis aliados (ainda que sejam provisórios, instáveis, vacilantes, condicionais) não seria infinitamente ridículo? Não seria como se, na difícil subida de uma montanha inexplorada e ainda inacessível, renunciássemos de antemão a fazer zigue–zagues de vez em quando, a retroceder de vez em quando, a abandonar a direção escolhida a princípio para experimentar direções diferentes? E, no entanto, pessoas tão pouco conscientes e tão inexperientes (bom seria se isso se explicasse pela sua juventude: o próprio Deus ordenou à juventude que dissesse semelhantes disparates durante um certo tempo) puderam ser apoiadas direta ou indiretamente, franca ou veladamente, integral ou parcialmente, pouco importa, por alguns membros do Partido Comunista holandês!

Após a primeira revolução socialista do proletariado, após a derrubada da burguesia em um país, o proletariado desse país continua a ser durante muito tempo mais fraco que a burguesia, simplesmente por conta das imensas relações internacionais dela e em virtude da restauração espontânea e contínua, do renascimento do capitalismo e da burguesia por meio dos pequenos produtores de mercadorias do país que derrubou a burguesia. Só se pode vencer um inimigo mais poderoso ao colocar todas as forças em tensão e aproveitar, obrigatoriamente com o maior zelo, cuidado, prudência e habilidade qualquer “brecha”, mesmo a menor, entre os inimigos, qualquer contradição de interesses entre a burguesia dos diferentes países, entre os diferentes grupos ou categorias da burguesia no interior de cada país; há que aproveitar igualmente qualquer possibilidade, por menor que seja, de conseguir um aliado de massas, ainda que temporário, vacilante, instável, pouco seguro, condicional. Quem não compreendeu isso, não compreendeu nem uma palavra de marxismo nem de socialismo científico contemporâneo em geral. Quem não provou na prática, durante um período de tempo bastante significativo e em situações políticas bastante variadas, a sua habilidade para aplicar essa verdade na vida, não aprendeu ainda a ajudar a classe revolucionária na sua luta para libertar, dos exploradores, toda a humanidade trabalhadora. E isso se aplica igualmente ao período anterior e posterior à conquista do poder político pelo proletariado.

A nossa teoria não é um dogma, mas um guia para a ação – diziam Marx e Engels –, e o maior erro, o maior crime de marxistas “patenteados” como Karl Kautsky, Otto Bauer e outros, consiste em não o ter compreendido, em não terem sabido aplicá-lo nos momentos mais importantes da revolução do proletariado.


Oitavo volume da coleção Arsenal Lênin, editada pela Boitempo com apoio da Fundação Maurício GraboisEsquerdismo, doença infantil do comunismo é um ensaio publicado pela primeira vez em 1920 e escrito às vésperas do II Congresso da Internacional Comunista. Na obra, Lênin aborda diretrizes para o futuro da Revolução e critica o que chama de “esquerdismo”, tendência dogmática de alianças e transição linear para o comunismo, defendida por várias tendências de partidos comunistas europeus e repudiada pelo autor. A obra conta também com o anexo “Sobre a doença infantil do ‘esquerdismo’ e o espírito pequeno-burguês”, texto de 1918  escrito para o jornal Pravda que antecipa a argumentação de Lênin sobre o assunto.

A guerra civil travada na Rússia após 1917 e o fim da Primeira Guerra Mundial marcavam o cenário conturbado da época. Na esteira da criação da Terceira Internacional, a obra tornou-se um guia para as forças políticas que aspiravam fazer parte do grupo. Lênin aborda em que condições se deve ou não fazer alianças, a participação nos parlamentos burgueses e os acordos possíveis com as mais variadas tendências políticas.
 
Com tradução direta do russo, Esquerdismo, doença infantil do comunismo é uma leitura que enriquece o debate atual sobre alianças pragmáticas. Há passagens na obra em que Lênin aborda a instabilidade dos sentimentos de revolta e como isso pode sucumbir em um cenário totalmente oposto, como foi o caso do fascismo na Itália, que se consolidou na década de 1920: “O pequeno burguês ‘enfurecido’ pelos horrores do capitalismo é, tal como o anarquismo, um fenômeno social característico de todos os países capitalistas. A instabilidade desse revolucionarismo, a sua esterilidade, a característica de se transformar rapidamente em submissão, em apatia, em fantasia, mesmo num entusiasmo ‘furioso’ por uma ou outra corrente burguesa ‘da moda’ – tudo isso é de conhecimento geral”.

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10 de janeiro (sexta-feira), às 14h, com participação de Jones Manoel, Marly Viana, Sâmia Bomfim e mediação de Cristiano Capovilla. Ao vivo na TV Boitempo.


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