A extraordinária história da formação do movimento operário judeu
Juventude do Bund (União Geral dos Operários Judeus da Rússia, Polônia e Lituânia) protesta em Varsóvia
Por Samuel Kilsztajn
Desde os primórdios do marxismo, o judaísmo tem ocupado lugar de destaque nos debates sobre religião, classe social, etnias e questão nacional. O judaísmo, por sua vez, também foi desafiado pelo marxismo a pensar sua própria emancipação, e a relação entre esta e a emancipação geral das sociedades em que viviam. Este livro acompanha os avatares da trajetória de um século de relações entre marxismo e judaísmo, desde o controvertido ensaio de Karl Marx redigido em 1843, até o clássico de Abraham Léon escrito em 1942, em pleno desenvolvimento do Holocausto, que ceifaria a vida do seu autor.
Os judeus da diáspora que habitavam o Leste Europeu haviam desenvolvido uma cultura humanista, internacionalista e pacifista. Falavam uma língua germânica denominada iídiche, uma língua sem Estado. A pátria dos judeus era o livro; sua arma, a caneta – haja visto a vasta e rica literatura iídiche laica desenvolvida no período. Hannah Arendt considerava que os judeus nunca poderiam ser verdadeiramente ingleses, franceses, alemães, austríacos, poloneses ou russos… eram simplesmente europeus; estavam representados em todas as nações do continente e posicionavam-se contra as desastrosas guerras das grandes potências. Nacionalismo, xenofobia e violência não lhes diziam respeito. Parte significativa dos judeus, em seu movimento emancipatório, aderiu ao socialismo. No processo da Revolução Russa, se viram diante do Exército Branco, que além de anticomunista era abertamente antissemita, e o Exército Vermelho, que proclamava a fraternidade entre os povos.
Hoje, diante de uma nova encruzilhada histórica para o judaísmo, Arlene Clemesha recupera a extraordinária história da formação do movimento operário judeu, reconstituindo seus desafios, conquistas e debates internos. O leitor desavisado talvez se surpreenda ao constatar que o sionismo era pouco expressivo até a ascensão nazista nos anos 1930. Depois do Holocausto, o Estado de Israel foi criado com o pretexto de estancar o antissemitismo milenar disseminado nas sociedades cristãs – promessa que jamais foi capaz de cumprir, desencadeando pelo contrário o antissionismo dentre as sociedades muçulmanas, que até então conviviam pacificamente com os judeus. Quem diria que o Estado judeu, além de massacrar o povo nativo da Palestina, iria exportar armas e treinar carrascos para controlar e reprimir povos insurgentes em outros países? O resultado desta análise joga luz sobre a história das difíceis relações entre marxismo e judaísmo, para além das lendas fantasiosas acerca de uma infundada “conspiração judaico-marxista” ou de seu par oposto, um suposto “marxismo antissemita”.
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A chamada “questão judaica” esteve e está no centro da história contemporânea. Não é de se estranhar que o judaísmo tenha lançado ao marxismo os maiores desafios à sua capacidade explicativa e transformativa. Em Marxismo e judaísmo: história de uma relação difícil, a professora e historiadora Arlene Clemesha passa em revista as metamorfoses dessa controvertida trajetória, desde o ensaio Sobre a questão judaica, de Karl Marx, até o clássico trabalho de Abraham Léon, escrito em pleno desenvolvimento do Holocausto, que ceifaria a vida do seu autor.

Escrita em linguagem acessível e desmistificadora, a obra cobre um intervalo crucial que vai desde os debates no incipiente movimento socialista do século XIX, passando pela criação da Internacional Socialista. Do surgimento do primeiro grande partido socialista judeu, o Bund, chegando no período da Revolução Russa de 1917, com especial atenção à posição de Lênin sobre o assunto. O líder da revolução era um feroz crítico do antissemitismo.
Clemesha avança até o período entreguerras com a análise da atuação dos judeus na Guerra Civil Espanhola. Pelas lentes de voluntários judeus nas Brigadas Internacionais, a autora trata da instrumentalização do antissemitismo por Josef Stálin até o Pacto Germano-Soviético de 1939. A visão de Leon Trótski é também esmiuçada pela autora. De origem judaica, o revolucionário era bastante crítico da transformação do antissemitismo em política de Estado pelo regime tsarista. Exilado por Stálin, acompanhou de longe a dura oposição trotskista na União Soviética e em seus últimos escritos faz uma previsão sobre a eliminação dos judeus da Europa pelo nazismo.
Sem medo de apontar o antissemitismo em setores da esquerda, nem de olhar para as tendências regressivas no movimento operário judeu, no campo de disputa que viu o surgimento do sionismo, Clemesha oferece, nas palavras de Jacob Gorender, que assina o prefácio da obra, “uma excursão notavelmente interessante pelos meandros sinuosos de uma questão nada fácil”.
“De Karl Marx a Daniel Bensaïd, passando por Rosa Luxemburgo, Leon Trótski, Walter Benjamin, Isaac Deutscher e tantos outros, o encontro entre o marxismo e os judeus foi uma poderosa fonte de insights luminosos e ideias críticas. Esse encontro transcendia o judaísmo ao questionar religiões e ortodoxias, mas carregava a memória de uma minoria perseguida. Os marxistas judeus foram outsiders heréticos e revolucionários cosmopolitas que se rebelaram contra velhos obscurantismos e novos nacionalismos. Neste brilhante ensaio, Arlene Clemesha nos guia pelos labirintos dessa fascinante história política e intelectual.”
— Enzo Traverso
“Um livro extraordinário que rastreia as maneiras pelas quais os marxistas se mobilizaram para compreender e resolver a questão judaica. Arlene Clemesha fornece um quadro de referência essencial para entender debates históricos e práticas políticas. Com um foco nos socialistas europeus e russos do final do século XIX e início do XX, a obra conta uma história em perspectiva global que permanece relevante para a nossa compreensão de acontecimentos contemporâneos.”
— Ran Greenstein

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Samuel Kilsztajn é professor titular em economia política da PUC-SP. Autor, entre outros livros, de Do socialismo científico ao socialismo utópico.
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