Uma história do contemporâneo em sua fase decisiva

Iuri Cavlak apresenta "O império universal e seus antípodas: a ocidentalização do mundo (e sua crise)", novo livro do historiador Marcos Del Roio que chega em primeira mão aos assinantes do Armas da Crítica de junho.

“Fortuna sobre a esfera” (1550), Hendrick Goltzius. Imagem: WikiCommons.

Por Iuri Cavlak

Este O império universal e seus antípodas, de Marcos Del Roio, tem uma relevância universal. Uma história do contemporâneo ajustada na longa duração, destacando os principais contextos e manejando os autores mais importantes de nossa tradição cultural, numa época em que a régua do bom fazer acadêmico é recorte e hiperespecialização, o tal estudar cada vez mais sobre cada vez menos. Um trabalho unicamente possível de ser concluído por alguém erudito, comprometido com o ensino e a pesquisa, apaixonado pelo saber e pela transformação do mundo.

Se a visão da totalidade é a mais profícua, e se a melhor reconstituição do passado é aquela que conjuga as mais variadas facetas da experiência humana, esta é uma obra mestra

Através de uma escrita cristalina, Marcos vai nos mostrando como, a partir do ano 1000, a Igreja e o Estado no Ocidente foram afirmando seus poderes, ao preço de criarem e solidificarem a imagem de um Oriente atrasado e inimigo — espécie de eterno aleijão político, econômico e cultural — e um próprio Ocidente interno subalternizado, feito de trabalhadoras, trabalhadores e insubmissos de toda cepa. 

O bloco burguês (a grande meretriz sentada em muitas águas, nas palavras do Apocalipse bíblico) se saiu como o maior vencedor dessa equação, acumulando bens e riquezas em concentração jamais vista desde o aparecimento da sociedade humana. Por sua vez, forjou-se uma prática política e um ideário antagônicos, cristalizados principalmente ao redor do marxismo a partir do século XIX e das experiências socialistas no século XX, malogradas em suas primeiras tentativas. 

A atualidade do livro repousa paradoxalmente na piora das condições do mundo capitalista, com o establishment ocidental e seus aliados violentando em proporções catastróficas seus adversários num desfile de barbárie cotidiana capaz de surpreender o pior dos tiranos — tudo pela acumulação sem travas e com a complacência das grandes mídias. 

Por trabalhar com a materialidade num enquadramento dialético e a todo momento levar em conta os projetos subversivos no decorrer do tempo, Del Roio nos sugere que a história, longe de seu fim, está em sua fase decisiva, em que é possível não só o bloqueio desse moinho satânico, mas a construção, protagonizada pelos orientalizados e subalternizados, de uma espécie humana congraçada com a natureza e com ela mesma. Ou isso, ou sucumbiremos universalmente, tal qual um império antípoda do futuro.

***
Iuri Cavlak é professor Associado do Departamento de História da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), na área de Teoria da História.


Debate com o autor, Marcos del Roio, e Daniela Mussi. Mediação de Iuri Cavlak.


Em O império universal e seus antípodas, o professor Marcos Del Roio traz um panorama abrangente sobre a história moderna percorrendo a formação, o desenvolvimento, a transformação e o declínio de impérios e sistemas mundiais, apresentando o Ocidente ao longo de centenas de anos e sua contraposição ao Oriente. O autor mostra como nasceu e se consolidou a ideia de um Oriente negativo, inferior e desprovido de identidade, pronto para ser conquistado e salvo pelo Ocidente.
 
Mesclando história, política, filosofia, economia e religião, Del Roio traz amplo conhecimento da história moderna: “Não se trata de mais uma obra sobre o Oriente imaginário, mas sim da análise do papel da negação e subalternização do outro na construção da identidade do Ocidente e do projeto do império universal, processo no qual a representação política do Oriente é um dos aspectos mais importantes”, diz o autor no prefácio.

Com erudição e comprometimento com pesquisa e fatos históricos, surge um retrato fidedigno dos últimos mil anos de poder e imperialismo no mundo: “Através de uma escrita cristalina, Marcos vai nos mostrando como, a partir do ano 1000, a Igreja e o Estado no Ocidente foram afirmando seus poderes, ao preço de criarem e solidificarem a imagem de um Oriente atrasado e inimigo — espécie de eterno aleijão político, econômico e cultural — e um próprio Ocidente interno subalternizado, feito de trabalhadoras, trabalhadores e insubmissos de toda cepa”, escreve o historiador Iuri Cavlak no texto de orelha.

“Este livro narra a trajetória de um imperium mundi ocidental desde a Idade Média, sem deixar de atentar para os outros do processo: a mulher, a natureza, o herege, a feiticeira, o diabo, o judeu etc. Nada mais atual.

Marcos Del Roio acompanha essa história durante a modernidade, passando pelo liberalismo clássico e pela crítica comunista. Para ele, a alternativa ao liberalismo viu-se manifestada por um ‘reformismo social sem reformas substantivas’ ou ‘uma oposição comunista incapaz de gestar uma subjetividade antagônica à revolução passiva no Ocidente e no Oriente’.” 
Lincoln Secco

🚀Assine até o Armas da crítica  até o dia 15 de junho e receba:  
📕 Um exemplar de O império universal e seus antípodas: a ocidentalização do mundo (e sua crise), de Marcos Del Roio, em versão impressa e e-book
🍸 Conjunto de porta copos comemorativo dos 30 anos da Boitempo
🔖 Marcador + adesivo
📰 Guia de leitura multimídia no Blog da Boitempo
📺 Vídeo antecipado na TV Boitempo
🛒 30% de desconto em nossa loja virtual


Deixe um comentário