Os curiosos e trágicos idos de abril

Por Izaías Almada.

A História não se repete, a não ser em forma de tragédia. À parte isso, o homem traz dentro de si toda esperança do mundo.

Na madrugada do dia 13 de abril de 1743, os colonos ingleses Peter Jefferson e Jane Randolph, que escolheram a Virgínia para morar, ouviram os primeiros choros do menino Thomas Jefferson que, entre outros atributos e atividades ficou conhecido como um dos pais da democracia norte-americana, essa que – desvirtuada em seus fundamentos – é vendida nos dias contemporâneos, ou melhor, imposta a ferro e fogo aos pequenos países que não leem pela cartilha de interesses do Departamento de Estado do governo dos Estados Unidos.

Foi também em abril de 1452, 291 anos antes do nascimento de Thomas Jefferson, mais precisamente no dia 15 de abril (há 559 anos, portanto), que a camponesa Caterina, da cidade de Da Vinci, região de Florença na Itália, fazia vir ao mundo um dos maiores gênios da humanidade, Leonardo da Vinci, cuja obra influenciou as ciências e as artes dos séculos que lhe seguiram.

Homens, fatos, acontecimentos políticos que contribuem para mudar o curso da história.

O golpe civil/militar de 1964 no Brasil, por exemplo, se concretiza em 1º de abril sob o pretexto de salvar a democracia no país, supostamente ameaçada pelo governo sindicalista de João Goulart. A data, já em si emblemática, mostraria que a mentira apregoada aos quatro ventos não teria tanto a perna curta, como se costuma dizer, pois durou 21 anos. Nesse tempo, foram ventos sinistros os que varreram o Brasil.

Em 22 de abril de1945, a cidade de Berlim foi sitiada e tomada pelo Exército Vermelho soviético. Uma semana depois, Adolf Hitler suicidou-se. Terminava assim o pesadelo da maior e mais devastadora guerra na história da humanidade.

No dia 20 de abril de 1999, dois estudantes de nome Dylan Klebold e Eric Harris mataram 12 alunos, um professor e feriram 23 pessoas numa escola secundária da cidade de Littleton, condado de Jefferson, Colorado. Em seguida, suicidaram-se. Columbine, o nome da escola. O episódio, de repercussão mundial, foi magistralmente documentado em Tiros em Columbine (2002) pelo cineasta Michael Moore, também nascido no mês de abril.

Doze anos depois, ouviram-se os mesmos tiros em Realengo. Doze crianças mortas e dezenas feridas por um único atirador no dia 7 de abril de 2011, na cidade do Rio de Janeiro, que se mata em seguida. Tudo para o regozijo da indústria armamentista, o entusiasmo da mídia sensacionalista, o agito dos psicólogos de botequim e dos políticos de ocasião, para os pescadores de águas turvas e para aqueles que se preocupam com o problema durante uma semana e o esquecem para o resto do ano. Ou da vida…

A escola brasileira recebeu o apoio e a solidariedade da escola Columbine do condado de Jefferson no Colorado. Na manhã do dia 7, parte da imprensa brasileira ainda tentou dar cores muçulmanas a tragédia, irresponsabilidade logo desmentida. Afinal, quem puxou o gatilho em Realengo? Como na tragédia grega, apontamos o dedo acusador para Wellington Meneses de Oliveira e fazemos a nossa catarse?

Sobre essa desgraça coletiva o sorriso de Mona Lisa continua enigmático e perversamente maravilhoso.

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Izaías Almada, mineiro de Belo Horizonte, escritor, dramaturgo e roteirista, é autor de Teatro de Arena (Coleção Pauliceia da Boitempo) e dos romances A metade arrancada de mimO medo por trás das janelas e Florão da América. Publicou ainda dois livros de contos, Memórias emotivas e O vidente da Rua 46. Como ator, trabalhou no Teatro de Arena entre 1965 e 1968. Colabora para o Blog da Boitempo quinzenalmente, às quintas-feiras.

1 comentário em Os curiosos e trágicos idos de abril

  1. Miguel Martins // 28/04/2011 às 3:37 pm // Responder

    Mais curiosidades de Abril:”Portugal’s 1974 revolution inaugurated a wave of democratization that swept the globe. It is quite possible that 2011 will mark the start of a wave of encroachment on democracy by unregulated markets, with Spain, Italy or Belgium as the next potential victims.” Robert Fishman no New York Times de 12 Abril 2011 (https://migre.me/4nA5I)

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