Cultura inútil | Reputação: qual é a sua?
De Napoleão Bonaparte a Angelina Jolie, passando por Ovídio, Bob Marley, Mário Quintana e Katharine Hepburn, Mouzar Benedito faz uma seleção de frases sobre fama e reputação.
FOTO: RICARDO NOGUEIRA/EDITORA GLOBO
Por Mouzar Benedito
Reputação! Está aí uma coisa muito valorizada, mesmo que desmerecida. Quer dizer, valorizada quando é boa reputação (ou fama). Há também má reputação merecida e desmerecida.
Um assunto que parece não ter nada a ver com esse tema: diante da aproximação da Copa do Mundo no Catar, eu me lembro da realizada no Brasil, em 2014. Um parêntese aqui: se a FIFA tivesse boa reputação, teria perdido na escolha desse país, com extensão de menos da metade de Sergipe e onde o esporte mais popular é a corrida de camelos.
Voltemos à Copa de 2014. Nós, da Sosaci – Sociedade dos Observadores de Saci, propúnhamos que o Saci fosse mascote, mesmo sabendo que a FIFA e a CBF não aceitariam isso de jeito nenhum, pois o Saci não daria lucro a elas. É uma figura já pronta, qualquer artista (ou nem tanto) poderia produzir seu próprio Saci com uma bola no pé ou a levando num redemoinho, seja estampado em camisetas ou adesivos de carros, ou também em pequenas esculturas.
Mas seria um jeito de levar ao mundo, e mesmo a muitos brasileiros, um pouco da nossa cultura popular.
Claro que preferiram criar um personagem de que mal terminou a Copa ninguém lembra mais. Mas contrataram gente pra produzir, a preços caros… Por que topar algo que não custa nada, quando se pode optar por uma coisa caríssima (e lucrativa), mesmo que a de graça seja muito melhor? A FIFA e a CBF são especialistas nisso.
Na ocasião, dei uma de raposa na fábula da raposa e as uvas, em que ela, não conseguindo apanhar nem um cacho, disse que não se interessava por elas, que “estão verdes”. Pois é, fiz a mesma coisa em relação à mascotagem da Copa. Escrevi: “O Saci tem um nome a zelar. Se for pra fazer uma porcaria de Copa, melhor que ele não seja mascote”.
Até que a Copa foi bem, o que foi mal foi a seleção brasileira. Imagino que se o Saci, que já não goza de boa reputação entre gringófilos festejadores do raloín, seria responsabilizado pelos 7 a 1 na derrota humilhante para a Alemanha. “Também, com o Saci como mascote, só podia dar nisso”, diriam.
Bom… em outras ocasiões, quando me convidaram para algumas coisas que eu não queria ou não podia fazer, brincava: “Eu tenho um nome zerar”. Zerar mesmo, não zelar. Tenho uma reputação boa ou má, dependendo de quem a classifica. Em todos os lugares que trabalhei e frequentei, tudo o que acontecia de esquisito ficava por minha conta, porque aprontei muito, mas nem tudo era obra minha. Os patrões, geralmente, não gostavam dessa minha fama. Os empregados patronais também não. Mas tive muitos apoiadores.
O certo é que uma boa ou má reputação (ou fama!) pode mudar a vida das pessoas. Quanta gente sem nenhum mérito tem todas as chances na vida, muitas vezes por causa de um sobrenome… A tal “meritocracia”, grande farsa!
Mas fiquemos no tema reputação, ou fama. Colhi um monte de frases sobre ela. Aí vão.
Coelho Neto: “Ídolos e homens… tudo está em criarem fama”.
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Katharine Hepburn: “Não me importo com o que escrevem sobre mim – desde que não seja a verdade”.
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Tom Wolfe: “Só existem duas maneiras de fazer carreira em jornalismo: construindo uma boa reputação ou destruindo uma”.
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Mário Quintana: “Quem pretende apenas a glória não a merece”.
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Aristóteles: “A grandeza não está em receber honrarias, mas em merecê-las”.
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Mark Twain: “É melhor merecer honrarias e não recebê-las do que recebê-las sem merecer”.
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Albert Camus: “O êxito é fácil de obter. O difícil é merecê-lo”.
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François La Rochefoucauld: “O mundo recompensa com mais frequência as aparências do mérito do que o próprio mérito”.
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Provérbio chinês: “Quem a si próprio elogia, não merece crédito”.
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George Bernard Shaw: “De quanto mais coisas um homem se envergonha, mais respeitável se torna”.
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Shaw, de novo: “A reputação de um médico se faz pelo número de pessoas famosas que morrem sob seus cuidados”.
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Shaw, mais uma vez: “Pouca gente pensa mais de duas ou três vezes por ano; eu ganhei reputação internacional a pensar duas ou três vezes por semana”.
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Ditado popular: “Quem faz a fama deita na cama”.
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Adaptação desse ditado: “Deitou na cama e fez a fama”.
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Giacomo Leopardi: “O meio mais eficaz para obter fama é fazer o mundo acreditar que já se é famoso”.
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Friedrich Schiller: “Sou melhor que a minha fama”.
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Oscar Wilde: “Pode-se sobreviver a tudo hoje em dia, exceto à morte e uma boa reputação”.
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Marquês de Maricá: “Uma grande reputação é talvez mais incômoda que a insignificância pessoal”.
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Maricá, de novo: “Há crimes felizes que são reputados heroicos e gloriosos”.
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Marilyn Monroe: “Todo mundo é uma estrela e merece o direito ao brilho”.
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Lord Byron: “Enxugar uma só lágrima merece mais honesta fama do que verter mares de sangue”.
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D. Xiquote (heterônimo de Bastos Tigre): “A fama da maioria dos filósofos resulta da timidez ou da vaidade dos discípulos em confessar que os não entenderam”.
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D. Xiquote, de novo: “Não há para descobrir má fama nos outros como aqueles que não têm de espécie alguma”.
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Ditado popular: “Basta um frade ruim para dar que falar a um convento”.
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Roquette Pinto: “Para celebrar grandes homens é costume chumbá-los em efígie, na praça pública”.
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D. Francisco Manuel de Melo: “A reputação é espelho cristalino; qualquer toque o quebra, qualquer bafo o empana”.
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Provérbio persa: “Se queres que te façam justiça, sê justo”.
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Einstein: “A fama é para os homens como os cabelos – cresce depois da morte, quando já lhe é de pouca serventia”.
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Ovídio: “A consciência tranquila ri-se das mentiras da fama”.
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François La Rochefoucauld: “A fama dos grandes homens devia ser sempre julgada pelos meios que usaram para obtê-la”.
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Bob Marley: “Preocupe-se mais com sua consciência do que com sua reputação. Pois sua consciência é aquilo que você é, e reputação é o que os outros acham de você”.
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Nietzsche: “É mais fácil lidar com uma má consciência do que com uma má reputação”.
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Nietzsche, de novo: “Quem, em prol de sua boa reputação, não se sacrificou já uma vez a si próprio?”
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Padre Antônio Vieira: “Muitos cuidam da reputação, mas não da consciência”.
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Abraham Lincoln: “O caráter é como uma árvores e a reputação como sua sombra. A sombra é o que nós pensamos dela; a árvore é a coisa real”.
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Ditado popular: “A fama é o mais duradouro dos túmulos”.
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Textos judaicos: “Na tua cidade o que conta é a tua reputação; nas outras, as tuas roupas”.
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Warren Buffet: “São necessários vinte anos para construir uma reputação e apenas cinco minutos para destruí-la”.
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Henry Kissinger: “Noventa por cento dos políticos dão aos 10% restantes uma péssima reputação”.
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Eurípedes: “Ter má fama quando morto não me importa”.
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Epicuro: “Os grandes navegadores devem sua reputação aos temporais e tempestades”.
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Jules Renard: “Não sei se Deus existe. Mas seria melhor para sua reputação que não existisse”.
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Ditado popular: “Mais vale boa fama que dourada cama”.
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Angelina Jolie: “As tatuagens, o sangue e eu eu me cortando. Tudo isso tem mesmo muito a ver com quem sou. Se me conhecessem na minha vida particular, poderiam pensar que sou até mais selvagem do que minha reputação”.
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Shakespeare: “Reputação é uma imposição tremendamente falsa e inútil, muitas vezes angariadas sem mérito e perdida sem um real motivo”.
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Harvey B. Mackay: “Tu não consegues comprar uma boa reputação; tens que a ganhar”.
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Elizabeth Arden: “Repetição faz reputação e reputação faz clientes”.
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Napoleão Bonaparte: “A glória é fugaz, mas a obscuridade dura para sempre”.
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Denis Diderot: “Há homens cujo ódio nos glorifica”.
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Balzac: “A glória é um veneno que se deve tomar em pequenas doses”.
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Ralph W. Emerson: “A fama é a prova de que as pessoas são crédulas”.
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Will Rogers: “Viva de forma a não se envergonhar de vender o papagaio da família para o fofoqueiro da cidade”.
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Mouzar Benedito, jornalista, nasceu em Nova Resende (MG) em 1946, o quinto entre dez filhos de um barbeiro. Trabalhou em vários jornais alternativos (Versus, Pasquim, Em Tempo, Movimento, Jornal dos Bairros – MG, Brasil Mulher). Estudou Geografia na USP e Jornalismo na Cásper Líbero, em São Paulo. É autor de muitos livros, dentre os quais, publicados pela Boitempo, Ousar Lutar (2000), em coautoria com José Roberto Rezende, Pequena enciclopédia sanitária (1996), Meneghetti – O gato dos telhados (2010, Coleção Pauliceia) e Chegou a tua vez, moleque! (2021, Editora Limiar). Colabora com o Blog da Boitempo mensalmente.
E tem uma que eu gosto muito, aqui em Portugal: ” “À mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta”!
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