A ação coletiva pode trazer mudanças radicais! 56 anos de Stonewall e leituras imprescindíveis para a luta LGBT+

No dia 28 de junho de 1969, 56 anos atrás, teve início a Rebelião de Stonewall. Deflagrada após a invasão policial de um estabelecimento frequentado por lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros, a jornada de revoltas é amplamente considerada um dos marcos inaugurais na luta pelos direitos civis dessas comunidades nos EUA e é o motivo pelo qual se celebra hoje o DIA INTERNACIONAL DO ORGULHO LGBTQIAPN+.

Para celebrar a data, o Blog da Boitempo publica o trecho de um discurso proferido por Angela Davis na Universidade de Illinois, em 24 de fevereiro de 2008. O texto integral foi publicado na coletânea O sentido da Liberdade com o título “Justiça para as comunidades lésbica, gay, bissexual e transgênero”. Também indicamos abaixo uma lista de leituras para se aprofundar na pauta e fortalecer as lutas contra a homofobia e transfobia.

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JUSTIÇA PARA AS COMUNIDADES LÉSBICA, GAY, BISSEXUAL E TRANSGÊNERO

Por Angela Davis

Enquanto enfrentamos todos os problemas em nossa vida e no mundo — da chamada guerra global contra o terror às muitas manifestações de racismo, sutis ou violentas, aos ataques às comunidades lésbica, gay, bissexual e transgênero, aos ataques ao nosso direito à educação; e à privação de serviços de saúde para um número cada vez maior de pessoas —, enquanto reconhecemos todos esses problemas, precisamos de esperança, precisamos de imaginação, precisamos de comunidades de luta, precisamos perceber que a mudança é realmente possível.

Como sabemos que a mudança é possível? É possível porque, por mais horríveis que as coisas possam parecer hoje, vivemos em um mundo que foi moldado pela mudança. Por mais difíceis que sejam as condições para as pessoas empobrecidas de minorias étnicas e raciais neste país, certamente seriam piores se as pessoas comuns não tivessem aprendido a se identificar com as comunidades de luta, não tivessem aprendido a imaginar um mundo diferente e melhor.

Por mais difíceis que sejam as condições para a juventude lésbica, gay, bissexual e transgênero — e às vezes a identificação sexual ou de gênero de alguém pode ser uma questão de vida ou morte —, ainda assim, nos últimos trinta a quarenta anos, perseverantes ativistas pelos direitos LGBTQIA+ nos levaram na direção de um mundo melhor.

A questão é que as pessoas se organizaram massiva e coletivamente para a mudança, e o mundo em que vivemos hoje, por mais que ainda restem problemas, é o resultado desses movimentos.

Penso em meu próprio passado como ativista e em meu envolvimento com comunidades de jovens que acreditavam mesmo que poderíamos acabar com a guerra e o racismo. Às vezes me pergunto se nós que lutamos com tanta urgência pela paz, pela justiça e por mundos melhores poderíamos ter previsto que quatro décadas depois enfrentaríamos uma máquina de guerra ainda mais feroz. Será que poderíamos ter previsto a globalização da pobreza e do racismo com a qual convivemos agora? Será que poderíamos ter previsto a transmutação das retóricas e das violências do anticomunismo em guerra global sob o pretexto de derrotar o terrorismo?

Será que poderíamos ter previsto o surgimento de um neoconservadorismo violento que se alimenta de supremacia branca, patriarcado, xenofobia, islamofobia e heteronormatividade? Provavelmente não. Mas uma coisa é certa: se as lutas do passado não tivessem emergido, se exteriorizado, cometido desobediência civil, batalhado e exercido sua influência para remodelar as relações humanas, nosso mundo estaria mais empobrecido material e espiritualmente, e com certeza não seríamos capazes de prosseguir hoje. Movimentos estudantis, movimentos pelos direitos civis, movimentos antiguerra, movimentos de mulheres, movimentos de gays e lésbicas, movimentos de solidariedade às lutas de libertação nacional na África, na Ásia, no Oriente Médio, na América Latina,
todos contribuíram imensamente para tornar nosso mundo mais justo.

Por mais desanimadoras que nossas circunstâncias contemporâneas possam parecer, vamos todos reconhecer que as coisas poderiam ter ficado muito piores do que estão. Além disso, não fossem todas as lutas de massa do passado, talvez nem tivéssemos a força da imaginação para apreender que nossa ação coletiva pode de fato trazer mudanças radicais. E vejo a geração de vocês erguendo uma nova bandeira e nos fazendo avançar.

Estamos vivendo em um mundo que não precisava ter chegado a isso. A guerra no Iraque não precisava ter acontecido. George Bush não precisava ter sido eleito — ele não foi eleito!

Como seria o mundo hoje, quais seriam as perspectivas para a democracia, se ex-prisioneiros e ex-prisioneiras tivessem o direito de votar nas eleições de 2000?

O voto é um direito civil importante. Mas temo que, se nossa energia política progressista estiver tão estreitamente focada nas eleições, talvez nos esqueçamos de que existem outras formas de intervenção política coletiva. Portanto, embora precisemos acelerar nosso envolvimento no processo de votação — e podemos, de fato, votar pela mudança —, votar pela mudança é apenas o começo. A participação nas eleições em todos os níveis precisa ser complementada pelo envolvimento contínuo nos movimentos sociais; pelo foco não apenas em questões específicas da comunidade LGBTQIA+, mas no ativismo antirracista e antissexista, nos direitos de imigrantes, no ativismo antiguerra, nos direitos da população carcerária, no posicionamento contra as privatizações, a favor dos direitos trabalhistas, a favor da justiça ambiental etc., e também pelo aprendizado de como reconhecer e formular as conexões profundas entre todas essas questões.

Portanto, o voto pela mudança deve ser complementado pela defesa e a organização da mudança — por uma mudança radical.

Não quero dar a entender que subestimo o poder do voto, especialmente porque as estratégias legislativas têm sido fundamentais para a busca de justiça para as comunidades LGBTQIA+. No entanto, mesmo que precisemos desesperadamente dessas soluções e seguranças que podem ser garantidas por lei, não podemos depender apenas da lei como solução para o problema da homofobia.

Em Oxnard, Califórnia, há pouco menos de duas semanas, um garoto de quinze anos chamado Lawrence King foi morto por um colega de classe depois de se assumir publicamente em sua escola secundária. Ele foi intimidado por um grupo de meninos depois que começou a usar sapatos de salto alto e batom na escola. O rapaz que o matou tinha apenas catorze anos. Aparentemente, ele entrou no laboratório de informática da escola, onde Lawrence King estava estudando, e o atingiu com um tiro na cabeça.

Essa tragédia tem muitas dimensões além da morte horrível e desnecessária de Lawrence. De acordo com o jornal The New York Times, ele morava em um lar social para crianças adotivas abusadas.

O garoto de catorze anos que o matou será julgado como adulto — como se possuísse a capacidade individual de decidir por si mesmo que pessoas homossexuais e transgênero são tão repulsivas que não merecem viver. De onde ele tirou essa ideia?

A atribuição de culpa absoluta ao indivíduo neste caso segue a mesma lógica que permitiu que o governo dos Estados Unidos e suas Forças Armadas transferissem a responsabilidade pelas horríveis torturas sexuais cometidas em Abu Ghraib para alguns indivíduos, “algumas maçãs podres”.

No caso de Lawrence King, o assassino será julgado por um crime de ódio e, se for condenado, terá uma pena de 52 anos a prisão perpétua. Esse menino será o bode expiatório de uma sociedade heteronormativa e de um governo profundamente homofóbico, e a homofobia vai continuar.

Além disso, se contarmos com o sistema prisional para resolver o problema da homofobia, estamos contando com um sistema que é cúmplice do processo que tornou a homofobia socialmente aceitável.

Se confiarmos na instituição prisional como a principal forma de abordar os problemas sociais que levam as pessoas à prisão, esses problemas continuarão se desenvolvendo e sendo reproduzidos pela prisão. A prisão é um dos maiores aparatos institucionais de gênero da sociedade, ela incentiva e se apoia na homofobia.

Compreendo que o nome de Martin Luther King tenha sido evocado em várias ocasiões durante esta conferência. Este é o Mês da História Negra. Preocupa-me que nossa memória histórica popular tenha se tornado tão superficial que o nome de Martin Luther King tenha passado a representar uma história que é muito mais complexa que o sonho dele. A popularização de Martin Luther King contribuiu ainda mais para a amnésia histórica deste país.

Um dos conselheiros mais confiáveis de Martin Luther King, o homem que apresentou a ele o conceito gandhiano de resistência não violenta, o homem que foi um dos principais organizadores da Marcha sobre Washington, de 1963, foi Bayard Rustin, um homem negro que era abertamente gay antes do surgimento do movimento de libertação gay. Bayard Rustin também tinha sido membro do Partido Comunista.

Rustin foi chamado pelo senador Strom Thurmond de “comunista, homossexual que escapou do serviço militar”. Embora dr. King fosse consistente e íntegro em seu apoio a Bayard Rustin, outros líderes, incluindo Roy Wilkins, na época presidente da NAACP (Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor), se recusaram a permitir que Rustin recebesse o reconhecimento pelo trabalho que realizou na organização daquela que continua sendo a manifestação histórica mais conhecida em Washington: a marcha em que dr. King fez seu discurso “Eu tenho um sonho”.

Dois anos depois, em março de 1965, dr. King publicou um artigo na New York Times Magazine sob o título “Direito civil #1: o direito ao voto”. No dia seguinte, o presidente Lyndon Johnson fez um discurso sobre a Lei dos Direitos de Voto, que foi aprovada em 6 de agosto.

Esse deve ser um dos momentos a que Hillary Clinton se referia quando disse que era preciso um presidente para realizar os ideais de dr. King.

Em primeiro lugar, o movimento pelos direitos civis era muito mais que um único líder. Milhares e milhares de pessoas anônimas aprenderam a imaginar um mundo radicalmente transformado. King deu expressão a suas aspirações, e pessoas como Bayard Rustin ajudaram a traduzir essas aspirações em um movimento. Esta é a história que foi apagada pela redução do movimento pelos direitos civis a um nome: Martin Luther King.

Talvez Hillary Clinton estivesse implicitamente comparando Obama a dr. King; é claro que ele ouviu com muita atenção os discursos de King, e ela, os de Johnson.

Por que nenhum dos partidos políticos se dedicou a discutir o estado contemporâneo dos direitos civis? Será que algum deles insistirá na inclusão de pessoas transgênero?

Há uma ligação direta entre as lutas históricas pelos direitos civis da população de origem africana deste país e as lutas contemporâneas pelos direitos civis das comunidades LGBTQIA+. Isso significa que precisamos falar contra os esforços de lideranças evangélicas negras que se recusam a reconhecer as conexões entre as lutas históricas pelos direitos civis da população negra e as lutas atuais pelos direitos civis das comunidades LGBTQIA+.

Se levarmos os direitos civis a sério, não podemos argumentar que o movimento pelos direitos civis acabou, que esta é a era pós-direitos civis ou a era pós-raça. Inúmeras pessoas não podem exercer seus direitos civis e estão exiladas à margem da política. As comunidades LGBTQIA+ não gozam da proteção total dos direitos civis. As comunidades de imigrantes, especialmente imigrantes sem documentos, têm a proteção dos direitos civis negada. Milhões de pessoas prisioneiras e ex-prisioneiras têm seus direitos civis negados.

Exceto no Maine e em Vermont, pessoas em prisões não podem votar. Em muitos estados, pessoas que foram prisioneiras não podem votar. A privação do direito ao voto para quem cometeu crimes é uma das principais causas de Bush ter saído vitorioso nas eleições de 2000.

Não quero subestimar a importância dos direitos civis, os direitos de cidadania. Mas, neste país, os direitos de cidadania são construídos de forma muito estreita e formalista. Nos Estados Unidos, os direitos tendem a ser separados do acesso aos recursos de que podemos precisar para tirar proveito desses direitos. O direito de ser livre de discriminação no emprego — que ainda não é garantido para as comunidades LGBTQIA+ — foi, para início de conversa, desvinculado do direito ao emprego. Há discriminação no acesso a moradia, mas não o direito a moradia acessível. Há serviços de saúde, mas não o direito a serviços de saúde gratuitos. Há educação, mas não o direito a educação gratuita.

Quatro décadas atrás, um debate se desenvolveu entre Martin Luther King e Malcolm X em torno das questões de direitos civis e direitos humanos. Uma situação legal grotesca emergiu durante a luta pelos direitos civis: ativistas dos direitos civis foram assassinados, mas os estados do Sul se recusaram a processar os assassinos. O único caminho para a acusação foi a lei federal dos direitos civis.

Quarenta anos atrás, Malcolm argumentou que expandimos nossa perspectiva dos direitos civis para os direitos humanos. Mas ainda não desenvolvemos um discurso que nos permita identificar e construir movimentos contra as extensas violações de direitos humanos cometidas neste país. Assim, a tortura não é uma violação dos direitos humanos; o assassinato de Lawrence King não é uma violação dos direitos humanos.

Agora quero examinar brevemente duas das questões de direitos civis mais evidentes que mobilizaram as comunidades LGBTQIA+ e pessoas aliadas. A primeira é o caso do casamento igualitário, e a segunda é o caso da igualdade nas Forças Armadas.

Ao refletir sobre o argumento formal em relação à igualdade de gênero e sexual nas Forças Armadas, devemos nos perguntar por que tendemos a confiar na lógica abstrata — igualdade como acesso igual, acesso igual de pessoas de minorias étnicas e raciais às forças armadas, acesso igual de mulheres ao combate, acesso igual de gays e lésbicas às Forças Armadas.

Eu jamais sugeriria que essas lutas em torno da igualdade formal não são importantes, mas tão importante quanto é considerar aquilo a que grupos sub-representados reivindicam acesso. Eu pensaria que tais reivindicações “democráticas” também teriam de considerar a natureza profundamente antidemocrática da instituição. A igualdade seria mais bem servida pelo direito igual de recusar o serviço militar — para homens brancos, mulheres brancas, mulheres e homens de minorias étnicas e raciais, gays e lésbicas de todas as origens raciais e étnicas.

Os debates em torno do casamento gay exigem uma abordagem mais complexa. As estruturas da heteronormatividade e as várias violências que tais estruturas e discursos acarretam não necessariamente desaparecem quando a sexualidade dos participantes é alterada. Não estou sugerindo que não reivindiquemos o direito de gays e lésbicas de engajar-se nessa prática, mas também temos de refletir sobre a instituição em si. É uma instituição econômica. Trata-se de propriedade. Não se trata de relações humanas nem de relações íntimas.

O que significa reivindicar o direito ao casamento igualitário sem reconhecer o papel que o casamento desempenhou na reprodução das desigualdades de raça e gênero? Sob as condições da democracia burguesa, o casamento sempre foi uma instituição machista, racista e heteronormativa que trata principalmente da acumulação e da distribuição da propriedade.

As pessoas escravizadas não tinham permissão para se casar, e, quando surgiram arranjos familiares que não correspondiam à família nuclear, foram produzidas ideologias racistas complexas que consolidaram ainda mais as hierarquias do racismo. Vivemos hoje com essas ideologias. Durante a campanha de George Bush a favor do casamento igualitário, problemas estruturais profundos relacionados ao racismo foram atribuídos ao pai ausente. Como se tudo o que as mães solo precisassem fazer fosse casar-se e assim transcenderiam as condições de pobreza em que estavam. E elas deveriam se casar com um homem, ainda que esse homem estivesse desempregado.

Mesmo dentro das comunidades LGBTQIA+, descobrimos a influência de ideologias racistas venenosas.

[…]

Há muito mais a dizer, mas pensei em concluir compartilhando com vocês um poema intitulado “Aonde você vai para tornar-se uma não cidadã?”, bastante popular em círculos queer de minorias étnicas e raciais na década de 1980 na área da baía de São Francisco. Foi escrito pela poeta negra, feminista e lésbica Pat Parker, que morreu em 1989, e está em sua antologia Movement in Black.

Como a maioria aqui não era nascida quando ela escreveu esse poema, vocês provavelmente não compreenderão as referências históricas. Mas isso não significa que ela e sua abordagem feminista, interseccional e transversal não devam fazer parte da memória histórica de vocês.

O poema de Pat Parker guarda misteriosas ressonâncias com o período contemporâneo. Estou pensando na pergunta da poeta: “Aonde você vai para tornar-se uma não cidadã?” — uma pergunta que hoje fala de solidariedade com pessoas sem documentos. Estou pensando nas referências que ela faz a Taft College e Carmel, que hoje evoca os Jena Six; e estou pensando nas New Jersey Four. Se ainda estivesse viva, Pat garantiria que todos entendessem as conexões entre o ataque racista aos Jena Six, o ataque racista/heteronormativo às jovens lésbicas negras que tentaram se proteger no Greenwich Village de Nova York e o assassinato homofóbico de Lawrence King.

AONDE VOCÊ VAI PARA TORNAR-SE UMA NÃO CIDADÃ?

Quero me demitir; quero cair fora.
Quero marchar ao lugar vizinho
Entregar minha carta a um rosto risonho
Quero me demitir; quero cair fora.

O presidente Ford vetou a lei do emprego
Enviada a ele da colina da capital
Enquanto ficamos aqui, sendo superlegais
Ele ganha uma piscina de US$ 60 mil
Quero me demitir; quero cair fora.

US$ 68 mil para a rainha Elizabeth não lavrar algodão
Mesmo assim, nem um pio sobre essa mentira podre
US$ 14 mil para a Ford Motors não plantar trigo
Acho que o governo não quer trigo nos assentos
Quero me demitir; quero cair fora.

A Comissão da CIA ficou em sessão por 26 semanas
Disse que os garotos não fizeram muita maldade
Distribuíram ácido — um teste — é o que dizem
Mas se você e eu usássemos, estaríamos na prisão
Quero me demitir; quero cair fora.

E na Taft College — um grupelho de tolos
Expulsou todos os alunos negros da escola
E cidadãos de bem preocupados em vender imóveis
Expulsaram adolescentes negros da pitoresca Carmel
Quero me demitir; quero cair fora.

A liga infantil, depois de todas as desculpas
Diz que a menina de dez anos deve usar protetor genital
No México, o Congresso Internacional das Mulheres
Elegeu como presidente — um homem branco liberal
Quero me demitir; quero cair fora.

A associação de psicologia disse, enfim, que os gays não são todos doentes
Mas não há reembolso para seus custos psiquiátricos.
Um juiz federal diz que a MCC1 é válida — é verdade
Mas isso não impedirá que os porcos machuquem você ou a mim
Quero me demitir; quero cair fora.

Quero me demitir; quero cair fora.
Por favor, leve-me para o lugar
Mostre-me o rosto risonho
Sou cética — cheia de dúvidas
Quero me demitir; quero cair fora.

Notas

  1. Metropolitan Community Church, igreja evangélica fundada em 1968 em Los Angeles professando o acolhimento à comunidade LGBTQIA+ cristã. (N. T.) ↩︎

Qual é o sentido da liberdade? Ao longo de décadas de trabalho, a filósofa Angela Davis se dedica a analisar a questão que dá título a este livro e a propor caminhos para extinguir todas as formas de opressão que negam aos sujeitos liberdade política, cultural e sexual.

Publicados pela primeira vez em português, os doze textos que compõem a coletânea O sentido da liberdade foram palestras realizadas por Angela Davis entre 1994 e 2009 e abordam a relação entre neoliberalismo, racismo, opressões de gênero e classe e o fenômeno da expansão da indústria da punição (ou complexo industrial-prisional) nos Estados Unidos. É a partir dessa inter-relação que a autora analisa fatos históricos da sociedade estadunidense, como a guerra no Iraque, o 11 de Setembro, a eleição de Barack Obama, o movimento pelos direitos civis e a importância da luta coletiva — em especial das comunidades negras, LGBTQIA+ e de mulheres — para repensar e ampliar o sentido da liberdade.

Apresentando o assunto de forma ágil e acessível, a autora explora a noção radical de liberdade como um esforço coletivo em prol de uma verdadeira democracia, que exige novas formas de pensar e ser. “Para Davis, a liberdade não é algo concedido pelo Estado na forma de lei, decreto ou norma; a liberdade é batalhada, é duramente disputada e transformadora, é um processo participativo que exige novas formas de pensar e de ser”, escreve Robin D. G. Kelly na apresentação.


Por um comunismo transexual, de Mario Mieli
Considerado um dos precursores da teoria queer, explora a relação entre homossexualidade, homofobia e marxismo. Tradução direta do italiano e com apêndice crítico, é um texto essencial para compreender a luta pela libertação sexual e a necessidade de desconstruir a “Norma” heterossexual.

Intersecções letais: raça, gênero e violência, de Patricia Hill Collins
Em determinadas intersecções de raça, gênero, classe, sexualidade, nacionalidade e religião a violência se faz mais presente e, muitas vezes, letal. Neste livro, o terceiro que tem como tema central a interseccionalidade, Patricia Hill Collins analisa casos reais de agressão contra grupos ou indivíduos específicos e cita ideias, ações e movimentos de resistência que surgiram como formas de combater o que se tornou um grande problema social.

Quem tem medo do gênero?, de Judith Butler
Neste seu primeiro livro não acadêmico, Judith Butler analisa como o “gênero” se tornou central em discursos conservadores e reacionários, um fantasma com o objetivo de criar pânico moral e angariar apoio popular a projetos políticos fascistas, autoritários e excludentes. Intervindo em uma das questões mais inflamadas da atualidade, a obra é uma convocatória arrojada a construir uma coalizão ampla contra as novas formas do fascismo. “É  crucial que a política de gênero se oponha ao neoliberalismo e a outras formas de devastação capitalista e não se torne seu instrumento”, insiste a autora.


Margem Esquerda #33 | Marxismo e lutas LGBT
Com dossiê de capa sobre “Marxismo e lutas LGBT”, coordenado por Lucas Bulgareli, com textos de Amanda PalhaRenan QuinalhaRafael Dias Toitio e Isadora Lins França, a edição abre com uma entrevista exclusiva com a filósofa e ativista Judith Butler, e traz ainda textos de Angela DavisMario Mieli e Clara Zetkin, entre outros. O ensaio visual é do artista plástico Carlos Motta.


Julián é uma sereia, de Jessica Love
Enquanto andava de metrô com a avó, Julián avistou um grupo de mulheres extremamente arrumadas. O cabelo delas era esvoaçante e em tons vivos, seus adornos reluziam, e os vestidos terminavam numa belíssima cauda de sereia. A alegria delas era contagiante. Já em casa, ainda encantado, sente vontade de se arrumar como uma sereia. Mas o que será que a avó vai achar da bagunça que fez — e, ainda mais, o que ela vai pensar sobre a forma como Julián se vê? Um livro delicado e colorido sobre amor e, principalmente, respeito.

O livro de Jessica Love ganhou inúmeros prêmios, entre eles o da Feira Internacional do Livro Infantil e Juvenil de Bolonha, na categoria Opera Prima. A obra aborda com delicadeza temas como individualidade, apoio familiar e diversidade.


Julián no casamento, de Jessica Love
Julián e sua avó estão indo a um casamento, repleto de flores, danças, beijos e muito amor no ar. E melhor: Marissol, amiga de Julián, também vai. As duas crianças se fartam de brincar com Gloria, a cachorrinha das noivas, e acabam se sujando. Para darem um jeito e seguirem apresentáveis na festa, Julián e Marissol improvisam novas roupas. A nova obra de Jessica Love é uma celebração dos afetos, da diversidade e da amizade. Com belas ilustrações em aquarela, a autora retoma temas de Julián é uma sereia, como a individualidade e o respeito.


Mulheres, raça e classe, de Angela Davis
Profundamente analítico, traça as interseções de raça, classe e gênero na luta contra opressões. A autora desafia visões simplistas, expondo a centralidade das mulheres negras. Sua crítica à esquerda ortodoxa e reflexões sobre representatividade são atuais.

Mulheres, cultura e política, de Angela Davis
A voz incisiva da renomada ativista em uma compilação de discursos e artigos sobre desigualdade racial, condições das mulheres e lutas sociais. Abordando temas internacionais, revela o impacto global da política norte-americana. Reflexões sobre resistência, arte e a construção de um mundo mais justo.

A liberdade é uma luta constante, de Angela Davis
Reunião de artigos, discursos e entrevistas, fazendo uma conexão das lutas históricas do movimento negro e do feminismo negro com os movimentos contemporâneos pelo abolicionismo prisional e a luta anticolonial. Um chamado à resistência coletiva em um mundo que clama por justiça e igualdade.

Uma autobiografia, de Angela Davis
Relato emocionante de uma vida dedicada à luta por justiça e igualdade. Ícone dos movimentos negros e feministas, a autora compartilha sua história marcante, revelando as injustiças que enfrentou e as raízes profundas de sua resistência. Sua narrativa é uma fonte inspiradora de força e determinação.

Democracia para quem?, de Angela Davis, Patricia Hill Collins e Silvia Federici
O livro reúne as palestras proferidas de 15 a 19 de outubro de 2019, pelas três intelectuais feministas no âmbito do seminário internacional “Democracia em Colapso?”, promovido pelo Sesc São Paulo e pela Boitempo. No livro, é possível tomar contato com reflexões feitas pelas autoras — referências globais em suas áreas de estudo e de atuação — sobre temas como capitalismo, racismo, desigualdade social, ecologia, entre outros.

O sentido da liberdade, de Angela Davis
Análise das interseções entre neoliberalismo, racismo, opressões de gênero e classe nos EUA. Palestras entre 1994 e 2009 desmistificam a ideia de uma liberdade concedida e destaca a luta contínua por direitos em um contexto global de discriminação e opressão.


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