Capitalismo digital e luta de classes

A nova edição da Margem Esquerda, revista semestral da Boitempo, se dedica a investigar os desafios da luta de classes no capitalismo contemporâneo digitalizado.

“Relógio para perder a hora”, de Guto Lacaz. A obra integra o ensaio visual da Margem Esquerda n. 36.


Acaba de chegar o novo número da Margem Esquerda – edição especial dedicada a mergulhar nos desafios e impasses do chamado capitalismo digital. Para debater as temáticas da revista, dia 19/5 tem live de lançamento com Ludmila Abílio, Rafael Grohmann e Tulio Custódio (mediação) às 14h na TV Boitempo. Saiba mais sobre o evento e confira o sumário completo da edição ao final deste post!


Por Artur Renzo e Ivana Jinkings.

A pandemia de covid-19 acelerou e desnudou uma série de tendências de exploração e dominação do capitalismo digital contemporâneo, tema central desta Margem Esquerda. No dossiê, o texto escrito pela socióloga Mariana G. Valente e por João Alexandre Peschanski, coordenador da seção, faz um panorama da “colonização da internet” por grandes corporações e apresenta formas de resistência e alternativas ao sistema dominante. O cientista político Sergio Amadeu da Silveira analisa a acumulação de capital no contexto de digitalização da economia e de consolidação de um mercado global de dados. O cientista social Rafael Grohmann apresenta, em seu texto, linhas mestras de pesquisa sobre plataformização e ação coletiva no mundo do trabalho. E a comunicadora social Amanda Chevtchouk Jurno discute o papel dos algoritmos, mecanismos de base do funcionamento da internet dominada por grandes empresas, na moldagem de interesses e na constituição ideológica dos usuários da rede.

A revista traz ainda três artigos que aprofundam os pontos levantados no dossiê. Ludmila Costhek Abílio parte do “breque dos apps” durante a pandemia para analisar o fenômeno da uberização do trabalho, salientando o que há de novo e de velho nas armadilhas do autogerenciamento e do governo da “viração”. Na sequência, Jodi Dean oferece um panorama das tendências “neofeudalizantes” do capitalismo contemporâneo digitalizado e financeirizado. Evgeny Morozov, por sua vez, examina as formas pelas quais as big techs e o neoliberalismo minam a democracia e questiona as potencialidades de um “socialismo digital” para o século XXI.

O entrevistado é o ex-presidente do Uruguai José Alberto Mujica Cordano, o Pepe Mujica. Em conversa com Emir Sader realizada por vídeo diretamente de sua chácara, nos arredores de Montevidéu, o velho tupamaro fala do tempo de guerrilha e de sua rotina atual, após a renúncia à cadeira no Senado; fala também de suas leituras e da admiração por Rosa Luxemburgo, de seus desafios como presidente e da importância de fomentar novas lideranças e a esperança nos jovens.

Uma segunda trinca de artigos se debruça sobre a conjuntura latino-americana: a pensadora argentina Beatriz Rajland examina a dinâmica política do continente; Maíra Kubík Mano analisa o saldo eleitoral brasileiro de 2020 sob a perspectiva de gênero; e o historiador chileno-brasileiro Horacio Gutiérrez promove uma reconstrução do imaginário político da revolta chilena com base nos grafites e nas intervenções artísticas de rua. Fechando a seção, Taylisi Leite faz uma breve introdução à obra da teórica alemã Roswitha Scholz e Fabio Mascaro Querido investiga a vertiginosa literatura do paraense Edyr Augusto sob as lentes da crítica cultural marxista.

Para lembrar os 150 anos da Comuna de Paris, Michael Löwy recupera e comenta um precioso manifesto do Comitê Central da União das Mulheres pela Defesa de Paris e pelos Cuidados dos Feridos, pregado nas ruas parisienses em maio de 1871; e nosso editor de poesia, Flávio Wolf de Aguiar, por meio dos versos de Clovis Hugues, mostra que a experiência da Comuna não se limitou à capital francesa.

Em 2021 também se completam cinquenta anos da morte de György Lukács. Para lembrar a data, Arlenice Almeida da Silva apresenta um escrito inédito em português do filósofo húngaro sobre estética e autonomia da arte. Ainda no rol das homenagens, José Paulo Netto nos brinda com um texto sobre Carlos do Carmo, o “fadista vermelho” que nos deixou no início deste ano.

A edição conta também com uma resenha de Marcelo Braz sobre Marx: uma biografia, de José Paulo Netto, e notas de leitura de Maria de Lourdes Rollemberg e Jones Manoel. Por fim, mas com igual importância, o ensaio visual que atravessa as páginas da revista, de capa a capa, é de Guto Lacaz, com curadoria e comentário de Francisco Klinger Carvalho, editor de arte da Margem Esquerda.

*

No fechamento deste número o Brasil atinge a triste marca de 350 mil mortes pelo coronavírus, cingindo um desgoverno genocida que desdenha da covid-19 e da permanência do país no epicentro da pandemia. Em meio a tantas vidas desperdiçadas – nossa solidariedade a todos e todas que perderam pais, mães, irmãs e irmãos, filhos e filhas ou amigos –, duas merecem nosso registro: a de Mario Duayer, estudioso e tradutor de Marx, membro do conselho editorial desta revista, falecido em janeiro deste ano; e a do crítico literário Alfredo Bosi, neste mês de abril. A esses dois grandes intelectuais, que nos deixam um legado humanista nesses tempos difíceis, dedicamos esta edição.

Debate de lançamento da Margem Esquerda 36 com Ludmila Abílio, Rafael Grohmann e Tulio Custódio (mediação).

Sumário completo

ENTREVISTA 

Pepe Mujica
Emir Sader e Felipe Queiroz

DOSSIÊ

Colonização da internet e suas resistências
Mariana G. Valente e João Alexandre Peschanski

O mercado de dados e o intelecto geral
Sergio Amadeu da Silveira

Trabalho plataformizado e luta de classes
Rafael Grohmann

Plataformas, algoritmos e moldagem de interesses
Amanda Chevtchouk Jurno 

ARTIGOS

Uberização, autogerenciamento e o governo da viração
Ludmila Costhek Abílio

Socialismo digital? 
Evgeny Morozov

Neofeudalismo: o fim do capitalismo?
Jodi Dean

O teorema do valor-clivagem em Roswitha Scholz
Taylisi Leite

AMÉRICA LATINA

As eleições de 2020 sob a perspectiva de gênero
Maira Kubik Mano

Pensando a esquerda hoje em nossa América
Beatriz Rajland

Rebelião chilena e imaginários políticos: a esquerda retratada nos grafites
Horacio Gutiérrez

CRÍTICA CULTURAL

Belém (ou o Brasil) em transe: o inferno à brasileira em Edyr Augusto
Fabio Mascaro Querido

DOCUMENTO

Manifesto do Comitê Central da União das Mulheres pela Defesa de Paris e pelos Cuidados dos Feridos [1871]
Nathalie Le Mel, Aline Jacquier, Blanche Lefevre, Marie Leloup, Elisabeth Dmitrieff
[Seleção e apresentação: Michael Löwy]

CLÁSSICO

Historicidade e atemporalidade da obra de arte [excerto]
György Lukács
[Seleção, tradução e apresentação: Arlenice Almeida da Silva]

HOMENAGEM

Carlos do Carmo, o fadista vermelho
José Paulo Netto

RESENHA

Uma monumental biografia de Marx
Marcelo Braz

NOTAS DE LEITURA

Bitcoin: a utopia tecnocrática do dinheiro apolítico, de Edemilson Paraná
Maria De Lourdes Rollemberg Mollo

A ideologia do desenvolvimento e a controvérsia da dependência no Brasil, de Fernando Correa Prado
Jones Manoel

POESIA

Hino à Comuna
Clovis Hugues 
[Seleção, apresentação e tradução: Flávio Wolf de Aguiar]

IMAGENS

Guto Lacaz: a poesia da mecânica e do humor
Francisco Klinger Carvalho

***


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Margem Esquerda é a revista semestral da Boitempo. Ela traz ensaios de fôlego sobre os principais acontecimentos de nosso tempo e sobre a conjuntura sociopolítica no Brasil e no mundo, além de estudos sobre autores clássicos e contemporâneos do pensamento crítico e entrevistas aprofundadas que traçam trajetória intelectual, política e cultural de figuras de destaque da esquerda de hoje.

Com um conselho editorial composto por pensadores do calibre de Alysson Leandro Mascaro, Boaventura de Sousa Santos, Heloísa Fernandes, José Paulo Netto, Luiz Bernardo Pericás, Maria Lygia Quartim de Moraes, Michael Löwy, Paulo Arantes, Ricardo Antunes, Roberto Schwarz e Slavoj Žižek, entre outros, a revista vem contribuindo incisivamente para a difusão da teoria marxista, consolidando-se como um importante espaço de debate teórico e político da esquerda brasileira.

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