5 filmes para ver nas férias, inspirados em leituras da Boitempo
A pedido do Blog da Boitempo, o crítico Alysson Oliveira traz uma seleção de cinco filmes, disponíveis em variadas plataformas de streaming, que dialogam com livros do catálogo da editora.

Por Alysson Oliveira
Livro: Adoniran, de André Nigri e Flávio Moura
A vida de um ícone da música brasileira, revelando a trajetória de Adoniran Barbosa. Com humor macarrônico, o sambista expressa São Paulo em canções imortais, tornando-se parte intrínseca da fisionomia paulistana. Fotos, caricaturas e detalhada discografia enriquecem esta homenagem.

Imagem: Divulgação.
Filme: Saudosa maloca, de Pedro Serrano, disponível no Arte 1 Play
A música mais famosa de Adoniran Barbosa é uma narrativa que há muito pedia para ser contada com imagens. Pedro Serrano, que já havia dirigido um curta inspirado em “Saudosa maloca”, além de um documentário sobre o compositor paulista, faz nesse longa uma adaptação lúdica da canção de 1951. Transitando entre a melancolia e a alegria, o enredo vale-se, também, de outras letras de Adoniran, como “Apaga o fogo mané”, “Iracema” e “Samba do Arnesto”.
O músico e ator Paulo Miklos assume o papel do narrador — uma espécie de Adoniran —, que conta a história de Joca (Gustavo Machado) e Mato Grosso (Gero Camilo). Os dois vivem num cortiço que está com os dias contados. Enquanto um grupo de moradores tenta reverter a situação, os amigos tentam conquistar Iracema, uma mulher bastante independente.
Livro: Machado de Assis, de Astrojildo Pereira
Análise perspicaz da obra de um dos maiores escritores brasileiros. O autor explora a literatura de Machado de Assis, revelando um escritor perspicaz, crítico atento e sensível e um romancista com forte sentido político e social.
Veja também: Box Astrojildo Pereira, com os 6 livros do autor editados pela Boitempo.

Imagem: Divulgação.
Filme: Capitu e o Capítulo, de Júlio Bressane, no Telecine
Um dos cineastas mais inventivos e cultuados do cinema brasileiro, Júlio Bressane se volta novamente a Machado de Assis, depois de adaptar Memórias póstumas de Brás Cubas e o conto “A erva do rato”. Em Capitu e o capítulo, o diretor parte de trechos de Dom Casmurro, trazendo seu olhar particular à trama da possível traição.
Quem conhece o cinema de Bressane sabe que não se deve esperar uma adaptação convencional. Protagonizado por Mariana Ximenes, no papel de Capitu, e Vladmir Brichta, como Bentinho, esse é um filme de ideias, de questionamentos estéticos e intelectuais, emoldurados pela precisa direção do cineasta que se vale de um trabalho de direção de arte (Isabela Azevedo e Moa Batsow) e de direção de fotografia (Lucas Barbi) de impressionante beleza visual.
Livro: O romance histórico, de György Lukács
O renomado filósofo explora a gênese do romance histórico e sua interação com a história e literatura burguesa. Escrito nos anos de exílio na União Soviética, amadurece os fundamentos de sua estética marxista. Análise única sobre a narrativa contemporânea e sua relação com as convulsões sociais.
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Filme: O jogo da rainha, de Karim Aïnouz, disponível no YouTube
Inédito nos cinemas nacionais, O jogo da rainha marca a estreia do brasileiro Karim Aïnouz na direção em língua inglesa. Apesar de ambientado na Inglaterra do século XVI, o cineasta cearense consegue imprimir sua marca num filme de beleza visual, ressoando temas contemporâneos, como a opressão feminina e disputas de poder.
Partindo do romance histórico de Elizabeth Fremantle, o longa traz como protagonista Katherine Parr (Alicia Vikander), sexta esposa do rei Henrique VIII (Jude Law), que assume o posto de regente enquanto o marido participa de uma batalha no estrangeiro. Porém, quando ele retorna, insano e doente, toma-a como uma inimiga. No longa, que fez sua estreia no Festival de Cannes de 2023, Aïnouz imprime um tom de suspense que beira o horror.
Livro: O tempo e o cão, de Maria Rita Khel
A depressão como um sintoma social contemporâneo. A autora traça a evolução histórica da melancolia e explora a peculiar relação dos depressivos com o tempo. Transcende o campo psicanalítico, abrindo caminho para compreender a influência dos mecanismos sociais na subjetividade humana.
Conheça também outros livros da autora publicados pela Boitempo.

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Filme: Garota interrompida, de James Mangold, disponível na Sony One
Tendo como base o livro de memórias homônimo de Susanna Kaysen, o filme faz um delicado retrato da depressão de uma jovem nos anos de 1960, que não se encaixava nos padrões da época. Conformista demais para ser revolucionária e progressista demais para se casar e tornar-se uma dona de casa, Susanna (Winona Ryder) tenta o suicídio, e seu psiquiatra a interna numa clínica.
Ao lado de outras colegas, também em diversas condições emocionais, ela vê pela televisão um mundo em transformação: a guerra do Vietnã, o festival de Woodstock. Sem saber como lidar com suas aflições, as mulheres encontram umas nas outras a força e o consolo para enfrentar a crueldade do mundo. O longa ainda traz Angelina Jolie como a rebelde Lisa, papel que lhe rendeu um Oscar de melhor atriz coadjuvante.
Livro: Universidade pública e democracia, de João Carlos Salles
Coletânea de artigos que abordam a importância da universidade pública e sua relação com a democracia, explorando as lutas e os desafios da educação no Brasil contemporâneo. Oferece reflexões profundas e uma crítica incisiva às ameaças à educação pública, com especial atenção ao programa Future-se.

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Filme: Puan, de María Alché e Benjamín Naishtat, no Prime Video
Apesar da trama se passar numa universidade argentina, há muitas semelhanças com as universidades públicas brasileiras — inclusive um pôster do Lula, pendurado na parede de uma sala de aula porteña. O longa se passa na Facultad de Filosofía de la Universidad de Buenos Aires (uma espécie de FFLCH da Argentina), que é palco da disputa entre dois professores: Marcelo Pena (Marcelo Subiotto), um professor de filosofia de longa carreira nessa faculdade, e Rafael Sujarchuk (Leonardo Sbaraglia), um professor-estrela que acaba de chegar da Europa, e que se destaca mais por seu romance com uma atriz famosa (Lali Espósito) do que seu pensamento.
Por meio dessas duas figuras díspares, o filme faz um retrato bem-humorado do ambiente universitário, com suas disputas de ego e divergências ideológicas. O tom cômico adotado é, no fundo, uma critica feroz à mercantilização do ensino universitário sob o comando do neoliberalismo. Diante disso, os alunos se rebelam, fazem seus protestos e mostram que não estão dispostos a abrir mão de um ensino gratuito e de qualidade. Assim, o longa faz uma ode à universidade pública.
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Alysson Oliveira é jornalista e crítico de cinema no site Cineweb, membro da ABRACCINE – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, e escreve sobre livros na revista Carta Capital. Tem Mestrado e Doutorado em Letras, pela FFLCH-USP, nos quais estudou Cormac McCarthy e Ursula K. LeGuin, respectivamente. Realiza pesquisa de pós-doutorado, na mesma instituição, sobre a relação entre a literatura contemporânea dos EUA e o neoliberalismo, em autores como Don DeLillo, Rachel Kushner e Ben Lerner.
O Jogo da rainha tem na Amazon prime também.
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