O manual prático do socialismo
Confira o texto de orelha escrito por Fernando Sarti Ferreira para "Do socialismo utópico ao socialismo científico", texto clássico de Friedrich Engels responsável por formar gerações de militantes marxistas.

Xilogravura de (1959), via Wikimedia Commons
Por Fernando Sarti Ferreira
Na longa história do socialismo, e especialmente do marxismo, talvez o texto mais lido depois do Manifesto Comunista seja Do socialismo utópico ao socialismo científico. Esse sucesso editorial é mencionado pelo próprio Engels nos prefácios compilados nesta edição da Boitempo e pode também ser constatado na história das edições marxistas no Brasil. Segundo levantamento feito pelo historiador Edgard Carone, entre a Revolução Russa de 1917 e o fim do Estado Novo em 1945, o Manifesto foi publicado cinco vezes no Brasil, apenas uma edição a mais que as de Do socialismo utópico ao socialismo científico.
Apesar de compartilharem grande popularidade e um caráter eminentemente pedagógico e catequético, as duas obras possuem importantes diferenças, determinadas pelos contextos históricos nos quais foram produzidas. Se o Manifesto de 1848 tinha o intuito de ler no “espectro que rondava a Europa” o anúncio da irrupção revolucionária da classe operária industrial, a obra de Engels, cuja primeira edição veio à luz em 1880, tem um caráter muito mais organizativo do que disruptivo. Trata-se de um texto escrito às vésperas de o marxismo se tornar a principal vertente do movimento socialista europeu — e, quiçá, mundial —, bem como da consolidação da forma organizativa clássica da social-democracia anterior à Revolução Russa com os partidos de massa e os sindicatos estruturados nacionalmente. A urgência do “general das vanguardas” nas barricadas de 1848 dá lugar, assim, à paciência do “professor das massas” de 1880.
Diversos temas e ideias enunciados no manifesto são retomados neste manual prático do socialismo, recebendo maior atenção e detalhamento, além de atualizações decorrentes do avanço das forças produtivas e da cristalização das novas relações sociais de produção após a Era do Capital. Depois de traçar uma breve história do movimento socialista — na qual Engels presta tributo principalmente a Charles Fourier e Robert Owen — e de apresentar uma contundente defesa do pensamento dialético e científico, é na terceira parte da obra que sua capacidade de síntese e didática alcança maior brilho. A condensação, em poucos parágrafos, de parte substancial dos avanços realizados por ele e Marx em suas investigações sobre os aspectos históricos e lógicos do funcionamento do modo de produção capitalista continua sendo um dos mais poderosos convites ao estudo do marxismo.
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Fernando Sarti Ferreira é doutor em história econômica pela USP.

Do socialismo utópico ao socialismo científico, de Friedrich Engels
Publicado originalmente em 1880, Do socialismo utópico ao socialismo científico é uma das obras fundamentais do marxismo e um dos textos mais acessíveis de Friedrich Engels. Escrito a partir de trechos de sua obra Anti-Dühring, o livro apresenta, de forma clara e contundente, a transição do pensamento socialista do século XIX das concepções idealistas e utópicas para uma abordagem materialista e científica da transformação social.
Esta edição traz a primeira tradução direta do alemão para o português brasileiro, preservando a precisão conceitual e o vigor do texto original. Além disso, inclui o prefácio de Karl Marx à edição francesa, também inédito no país – um documento crucial que reforça a importância deste ensaio na difusão das ideias socialistas.
Desde sua primeira publicação, Do socialismo utópico ao socialismo científico teve uma ampla circulação internacional, sendo rapidamente traduzido para diversas línguas. Engels o viu ser publicado em francês, inglês, italiano, espanhol, russo e outras línguas, tornando-se uma das introduções mais populares ao pensamento marxista, superando, nesse quesito, o Manifesto Comunista e O capital. Suas edições sucessivas acompanharam o crescimento dos movimentos operários ao longo dos séculos XIX e XX, consolidando-se como um dos textos mais lidos e reimpressos do socialismo. Seu impacto global reflete a clareza e a força argumentativa com que Engels expõe as bases do materialismo histórico e da concepção científica do socialismo.
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CONHEÇA A COLEÇÃO MARX-ENGELS
Empenhada há três décadas em traduzir as obras de Marx e Engels, com rigor acadêmico e editorial, e sempre a partir dos manuscritos originais, a Boitempo conta hoje com mais de trinta volumes dos dois autores publicados, além de dezenas de livros dedicados ao estudo da teoria marxista. Em 2025, a Coleção Marx-Engels ganha mais dois volumes: Do socialismo utópico ao socialismo científico, de Friedrich Engels, que acaba de chegar às livrarias, e o primeiro tomo das Teorias do mais-valor, obra inacabada de Karl Marx que foi por muitos considerada como o Livro IV de O capital.
Enquanto esse lançamento histórico não chega, conheça o catálogo de obras já publicadas pela coleção – algumas das nossas edições foram reconhecidas como as melhores do mundo por Gerald Hubmann, ex-diretor da MEGA (Marx-Engels-Gesamtausgabe, instituição detentora dos manuscritos dos autores).



O capital [livros I, II e III], de Karl Marx
Em 2011, a Boitempo deu início a uma de suas maiores empreitadas editoriais: a tradução completa de O capital, a principal obra de maturidade de Karl Marx. Em março de 2013, em meio ao projeto MARX: a criação destruidora, um conjunto de eventos que reuniu milhares de pessoas para debater a atualidade de seu pensamento, foi lançado o primeiro livro, O processo de produção do capital. A tradução de Rubens Enderle, vencedora do prêmio Jabuti 2014, foi a primeira realizada no Brasil a partir do texto preparado no âmbito da Marx-Engels Gesamtausgabe (MEGA2). Além dos prefácios elaborados por Marx e Engels para as diversas edições da obra e notas, a edição da Boitempo conta ainda com extenso aparato crítico.
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A ideologia alemã, de Karl Marx e Friedrich Engels
Edição integral e esmerada de um marco do pensamento filosófico, esta versão traduzida diretamente do original alemão e baseada na MEGA2 revela a crítica afiada dos autores à ideologia dominante e a importância da práxis na transformação do mundo e do ser humano. Um clássico, agora em português.
“A edição da Boitempo de A ideologia alemã é uma das melhores edições do mundo, se não for a melhor de todos os tempos.”
— Gerald Hubmann, diretor da MEGA2
Manuscritos econômico-filosóficos, de Karl Marx
Publicados apenas após sua morte, estes manuscritos foram escritos em 1844, quando Marx tinha apenas 26 anos. Neles, o filósofo alemão desenhou a crítica ética e política ao capitalismo, explorando a desvalorização humana em prol da mercadoria. Embora esboços, revelam a raiz da teoria do mais-valor.
Para a crítica da economia política, de Karl Marx
Publicada em 1859, esta é a primeira tentativa de Marx de publicar de maneira sistemática sua crítica da economia política. Trata-se do único volume que efetivamente veio à luz numa série prevista de seis livros. Oito anos depois, remodelado o projeto inicial, a concepção ganharia corpo na principal obra do autor, O capital, publicada em 1867. Para a crítica delineia os conceitos equivalentes ao que depois comporia a Seção I da obra-prima do filósofo alemão.
Grundrisse, de Karl Marx
Estes manuscritos, em tradução rigorosa feita diretamente dos originais em alemão, revelam a gênese da crítica do pai do socialismo científico à economia política. Escritos entre 1857 e 1858, são uma oportunidade ímpar para compreender, detalhadamente, o laboratório de estudos do renomado teórico.
Resumo de O capital, de Friedrich Engels
Mais de 150 anos após sua publicação, a obra-prima de Karl Marx continua suscitando debates acalorados. Friedrich Engels, o principal parceiro intelectual de Marx, buscou durante muitos anos de sua vida divulgá-la e publicá-la em outras línguas, além de ter sido o principal editor e organizador dos livros 2 e 3. Este livro traz um conjunto de resenhas feitas por Engels logo após o lançamento do primeiro volume de O capital, além de um manuscrito que o resume, uma espécie de guia para entender a obra, publicado pela primeira vez em português.
Manifesto comunista, de Karl Marx e Friedrich Engels
No final de fevereiro de 1848, foi publicado em Londres um pequeno panfleto que acabaria por se tornar o documento político mais importante de todos os tempos. Passado mais de um século e meio, a atualidade e o vigor deste texto continuam reconhecidos por intelectuais das mais diversas correntes de pensamento.
O 18 de brumário de Luís Bonaparte, de Karl Marx
Nesta célebre análise sobre o processo que levou da Revolução de 1848 para o golpe de Estado de 1851 na França, o filósofo alemão desenvolve o estudo do papel da luta de classes como força motriz da história e aprofunda sua teoria do Estado, sobretudo demonstrando que todas as revoluções burguesas apenas aperfeiçoaram a máquina estatal para oprimir as classes. Embasado por essa observação, Marx propõe, pela primeira vez, a tese de que o proletariado não deve assumir o aparato existente, mas desmanchá-lo.
A sagrada família, de Karl Marx e Friedrich Engels
Edição esmerada de um trabalho seminal dos dois pensadores, introduzindo conceitos revolucionários como “consciência de classe” e “ideologia” e fazendo uma crítica mordaz aos intelectuais de sua época. Uma oportunidade para a compreensão das origens do pensamento materialista da história.

A origem da família, da propriedade privada e do Estado, de Friedrich Engels
Um clássico da teoria social, este escrito de 1884 apresenta uma análise crítica dos modos de organização da vida social. Levando em consideração as relações entre os sexos para além da biologia, Engels trata da opressão de gênero e do papel do casamento e da autoridade masculina na constituição da sociedade moderna.
A mais inovadora e abrangente antologia de textos de Marx e Engels já chegou!
Mais de cento e quarenta anos após a morte de Karl Marx e cento e vinte da morte de Friedrich Engels, qual a contribuição intelectual desses dois filósofos para o Brasil e para o mundo? Muito se fala hoje, da esquerda à direita, de Marx e Engels, mas o quanto estamos de fato lendo suas obras?
Concebida pela Boitempo, principal editora de Marx e Engels no Brasil, para atingir um público amplo, a antologia O essencial de Marx e Engels propõe um mergulho de fôlego e amplitude sem precedentes nos principais pontos do projeto teórico desses dois autores. A organização, as apresentações de cada volume e as notas explicativas são de Marcello Musto, professor italiano com contribuições decisivas no florescente campo de estudo marxiano contemporâneo. A obra conta também com prefácio de José Paulo Netto e textos de apoio de alguns dos maiores especialistas brasileiros: Marilena Chaui, Jorge Grespan, Leda Paulani, Virgínia Fontes, Lincoln Secco e Alfredo Saad Filho. A edição é de Pedro Davoglio.



O essencial de Marx e Engels reúne os textos mais importantes dos pensadores e revela cartas, manuscritos e rascunhos inéditos ou pouco conhecidos. Os três volumes, separados em escritos filosóficos, econômicos e políticos, contam com 16 partes temáticas e 66 extratos diferentes, incluindo obras publicadas, documentos e alguns escritos inacabados que foram anteriormente negligenciados. A obra revela, entre outras coisas, como estão equivocadas as interpretações que retratam Marx e Engels como pensadores eurocêntricos e economicistas, interessados apenas no conflito entre trabalhadores e capital.
Os volumes seguem uma linha cronológica que vai do início da década de 1840 até a morte de Engels, em 1895. Temas como a filosofia pós-hegeliana, a concepção materialista da história, método de pesquisa, trabalho e alienação, crise econômica, socialismo e muitos outros trazem ao público as ideias mais conhecidas e uma faceta pouco explorada da dupla. Em uma época em que as teorias de Marx e Engels voltam a ser investigadas em escala global, esta obra permite uma nova e mais completa interpretação geral de sua produção intelectual.
Além dos três volumes citados, a caixa contém o livreto Para ler Marx e Engels, com material complementar às obras publicadas no Brasil, como aulas, debates, palestras, itinerários de estudo e indicações de leituras de apoio.

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