Clara Zetkin e o desenvolvimento do marxismo feminista

Clara Zetkin discursa em manifestação no Lustgarten, em Berlim, após o assassinato de Matthias Erzberger em agosto de 1921. Foto: Wikimedia Commons
Por Wendy Goldman
O primeiro trabalho marxista a abordar a questão da mulher diretamente foi A situação da classe trabalhadora na Inglaterra, de Engels, escrito em 1844. Apesar de o livro tratar de forma profunda os efeitos do capitalismo na família, faltava-lhe uma análise teórica genuína, e permaneceu essencialmente uma poderosa condenação das práticas industriais. Um dos principais temas de Engels foi a introdução de novo maquinário e a crescente substituição de homens trabalhadores por mulheres e crianças, por uma fração dos salários dos homens. Embora Engels entendesse tal processo como “inevitável”, preocupou-se profundamente sobre seus efeitos nas mulheres e crianças. Os bebês adoeciam e passavam fome em casa enquanto os seios inchados de suas mães pingavam leite sobre as máquinas. Confinadas a posições antinaturais durante todo o dia de trabalho, as mulheres contraíam uma série de grotescas deformações ocupacionais. Mulheres grávidas, multadas por sentar para descansar, desenvolviam varizes horríveis e muitas vezes trabalhavam “até quase o momento do parto” por medo de perder seu salário e ser substituídas. Engels observou que “não é incomum que a criança nasça na própria fábrica, entre as máquinas”.
Em sua rigorosa exposição da vida das mulheres trabalhadoras, Engels intuitivamente agarrou a contradição entre produção capitalista e estabilidade familiar. Ele foi ágil ao perceber o “abandono total dos filhos” quando ambos os pais trabalhavam de doze a treze horas por dia no moinho. “O emprego das mulheres”, observou, “destrói imediatamente a família”. Resumindo o efeito da indústria sobre a família, Engels cita as longas horas que as mulheres passavam no trabalho, a negligência com o trabalho doméstico e com os filhos, a desmoralização, a crescente indiferença em relação à vida familiar, a incapacidade dos homens para encontrar emprego, a precoce “emancipação dos filhos” e a inversão dos papéis de gênero. O capitalismo, em sua visão, estava destruindo a família.
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No período de um ano, Marx e Engels deram um grande salto em suas concepções sobre as mulheres e a divisão do trabalho. Formulando uma teoria geral do desenvolvimento histórico em A ideologia alemã (1845-1846), começaram a questionar a própria ideia de uma divisão do trabalho “natural”. Nessa obra, colocaram pela primeira vez a produção da vida material e a “relação entre homens e mulheres, pais e filhos, a família” como premissas básicas da existência humana. Ao delinear sua concepção materialista da história, discutiram a relação entre os estágios básicos da produção, a propriedade e a divisão sexual do trabalho, ou a chamada divisão “natural”. Eles sugeriram que a família era mais do que um conjunto de relações naturais ou biológicas que ganhava contornos sociais correspondentes ao modo de produção. Insistiram que a família deveria ser tratada de forma empírica em todos os estágios da história, e não como um conceito abstrato.
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Além do mais, eles afirmavam que a substituição da família individual pela economia comunal seria acompanhada pela abolição ou “superação” da própria família. Essa abordagem positiva da abolição da família contrastava fortemente com as afirmações reprobatórias de Engels sobre a desintegração da família em A situação da classe trabalhadora na Inglaterra. Em A ideologia alemã, Marx e Engels argumentaram que a nova família proletária era um protótipo de futuras relações sociais. Ao contrário da família burguesa, baseada na propriedade, a família da classe trabalhadora se unia por laços de genuína afeição. Essa noção idealizada da família proletária contrastava fortemente com as descrições anteriores de Engels. Em A ideologia alemã, Marx e Engels abandonaram os estereótipos convencionais de uma vida familiar apropriada em favor de uma visão romântica da união de indivíduos não motivada por considerações de propriedade. Essa ideia permaneceu essencialmente inalterada ao longo dos trabalhos posteriores de Marx e Engels. Apareceu em Princípios básicos do comunismo (1847), Esboço de uma confissão de fé comunista (1847), Manifesto Comunista (1848) e A origem da família, da propriedade privada e do Estado (1884). Marx e Engels contrastaram repetidamente os casamentos sem amor da burguesia proprietária com as uniões afetivas do proletariado despossuído. Em sua opinião, a propriedade era o principal obstáculo para relações baseadas no amor, igualdade e respeito mútuo. Eles nunca abordaram as formas específicas de opressão às mulheres na família da classe trabalhadora, tampouco avançaram além de uma distinção rudimentar entre relações na família com propriedade e na família sem propriedade, embora outras obras teóricas marxistas voltariam a esta questão no futuro.1
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O famoso trabalho de August Bebel, Women and Socialism [Mulheres e socialismo], publicado primeiramente em 1879, foi um marco importante no distanciamento do antifeminismo proletário em direção a uma estratégia mais unificadora dentro do movimento operário. O livro rapidamente se tornou a obra mais popular nas bibliotecas dos trabalhadores alemães. Foi traduzido para várias línguas e relançado em mais de cinquenta edições somente na Alemanha. Tornou-se a base para posteriores esforços organizativos social-democratas entre mulheres e teve um enorme impacto em muitas das futuras dirigentes do movimento socialista internacional. Clara Zetkin, uma dirigente do Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD), comentou: “Era mais do que um livro, era um acontecimento — um grande feito”.
O livro abordava toda a história das mulheres, desde a sociedade primitiva até o presente, incluindo material sobre o drama grego, esposas atenienses e cortesãs, cristianismo, Idade Média, Reforma, século XVIII e sociedade industrial. Ao contrário do trabalho posterior de Engels, A origem da família, da propriedade privada e do Estado, Bebel oferecia pouca análise teórica. Sua crítica era essencialmente moral, centrada nos males e na hipocrisia da sociedade burguesa. Bebel também se distanciou de Marx e Engels em seu interesse pela história da sexualidade. Suas discussões sobre a natureza antissexual do cristianismo, as concepções da Igreja sobre as mulheres e o culto à Virgem Maria eram extraordinariamente novas e antecipavam discussões feministas de um século adiante.
Bebel exaltava a sexualidade e escreveu francamente sobre “os desejos naturais existentes em todo adulto sadio”. “Impulso sexual”, explicava, “não é moral ou imoral; é simplesmente natural, como a fome ou a sede”. Escreveu de forma comovente sobre a infelicidade sexual em muitos casamentos modernos e o efeito pernicioso da dupla moral que forçava as mulheres a reprimir seus instintos mais poderosos. Enxergava mais claramente a subjugação das mulheres através das lentes da sexualidade. “Nada pode provar a posição dependente da mulher de uma forma mais enfática e revoltante”, escreveu, “do que essas concepções imensamente distintas em relação à satisfação do mesmo impulso natural”. Como Marx e Engels, ele postulava uma união livre fundada no amor em lugar das “relações
forçadas” criadas pelo capitalismo.
Surpreendentemente, o livro dedicou míseras dez páginas ao tema de seu título: as mulheres e o socialismo. Aqui, como Marx e Engels, Bebel prognosticou uma nova liberdade de união para as mulheres. O socialismo, afirmava, “irá somente reestabelecer em um nível superior de civilização […] o que geralmente prevaleceu antes da propriedade privada”. Ao manter sua ênfase na sexualidade, os prognósticos de Bebel possuíam forte aspecto libertário. “Ninguém deve prestar contas a outros, e nenhum terceiro tem o direito de interferir”, escreveu; “o que eu como e bebo, como durmo e me visto é meu assunto particular, e também é meu assunto privado minha relação sexual com uma pessoa do sexo oposto”.
Em 1884, logo após a morte de Marx, Engels publicou A origem da família, da propriedade privada e do Estado, um estudo abrangente acerca das origens da opressão às mulheres e do desenvolvimento da família. O livro exerceu grande impacto nos intelectuais socialistas, inclusive em Bebel, que rapidamente incorporou os avanços teóricos de Engels em edições posteriores de Mulheres e o socialismo. Engels se baseou nos Cadernos Etnológicos, de Marx, compilados entre 1880-1881. As anotações de Marx abrangiam um estudo pioneiro sobre a organização familiar entre índios americanos, escrito por Lewis Henry Morgan em 1877. [… Desse modo,] Engels forneceu a expressão mais completa do pensamento marxista sobre as mulheres e a família, apresentando uma análise da opressão às mulheres baseada nas relações de produção mutáveis. Ele iniciou a discussão teórica sobre a contradição entre as esferas reprodutivas e produtivas sob o capitalismo, adiantando um novo imperativo para a abolição da família sob o socialismo. Previu confiante um novo amanhecer para a libertação das mulheres sob o capitalismo, baseado na crescente participação das mulheres na força de trabalho assalariada.
O trabalho de Engels e Bebel foi crucial no combate ao antifeminismo proletário dentro do movimento operário, mas também o foram os esforços práticos para implementar suas ideias. Uma das principais figuras na popularização e desenvolvimento de novas estratégias foi Clara Zetkin (1857-1933), uma dirigente de imenso talento do movimento social-democrata alemão e incansável defensora dos direitos das mulheres trabalhadoras. Zetkin leu o livro de Bebel pela primeira vez aos vinte e poucos anos e imediatamente mudou suas ideias sobre as mulheres. Embora seus esforços teóricos nunca tenham rivalizado com os de Engels ou Bebel, seu trabalho organizativo, discursos, escritos e a dedicação de toda sua vida às mulheres trabalhadoras ajudaram a traçar uma nova direção dentro do movimento socialista europeu e do partido social-democrata alemão em particular.2
O trabalho teórico de Zetkin estava profundamente entrelaçado com suas atividades organizativas em prol das mulheres. Como Marx, Engels e Bebel, ela reconhecia que a participação crescente das mulheres no trabalho assalariado era historicamente inevitável, e lutou para garantir que essa análise se refletisse nas estratégias práticas dos partidos socialistas. Ela se chocou repetidas vezes com membros mais conservadores dos partidos socialistas que buscavam eliminar as mulheres da força de trabalho ao exigir um salário familiar. Zetkin achava essa demanda fútil. Se os empregadores insistiam no trabalho feminino porque era mais barato, homens e mulheres deveriam lutar por “salário igual para trabalho igual”. Os sindicatos deveriam começar a organizar as mulheres. Em seu discurso no Congresso de Fundação da Segunda Internacional em 1889, Zetkin falou fortemente a favor das mulheres trabalhadoras. Explicou: “Não é o trabalho feminino em si que rebaixa os salários ao entrar em competição com o trabalho masculino, mas a exploração do trabalho feminino pelos capitalistas que dele se apropriam”. Mais tarde, resumiu esse discurso em um panfleto que se tornou um guia para futuras políticas do SPD. Zetkin não somente defendia o direito das mulheres ao trabalho, mas acreditava que o trabalho assalariado era “um pré-requisito essencial” para a independência das mulheres. Ainda que, nas palavras de Zetkin, “a escrava do marido se tornou a escrava do empregador”, ela insistia que as mulheres “se beneficiaram com essa transformação”.
No âmbito teórico, Zetkin ampliou as análises iniciais de Engels e Bebel. […] Marx e Engels não distinguiam as várias formas de opressão sofridas pelas mulheres de classes diferentes. Zetkin foi a primeira a situar a opressão às mulheres dentro de uma compreensão mais sutil de classe. Essencialmente, postulou uma “questão da mulher” diferente para cada classe na sociedade capitalista. Mulheres de classe alta se preocupavam principalmente com a liberdade de administrar sua própria propriedade. Mulheres de classe média, com educação formal, buscavam treinamento e oportunidades de emprego ou, nas palavras de Zetkin, “competição sem obstáculos entre homens e mulheres”. Mulheres proletárias, forçadas a trabalhar para complementar a renda de suas famílias, defendiam seus interesses unindo-se aos homens para lutar por melhores condições de trabalho para ambos os sexos.
O esforço de anos de Zetkin em prol das mulheres trabalhadoras recebeu reconhecimento internacional em 1907 no Congresso da Segunda Internacional. A primeira Conferência Internacional das Mulheres Socialistas teve lugar no mesmo momento, e a Internacional ratificou o princípio do direito da mulher ao trabalho, a criação de organizações especiais de mulheres dentro de todos os partidos socialistas e uma posição a favor da organização ativa em prol do sufrágio feminino. Finalmente se formava uma estratégia oficial para a libertação plena da mulher, nos sentidos político, econômico e social.
* Este trecho foi extraído do primeiro capítulo de Mulher, Estado e revolução.
Notas
- As feministas modernas e os historiadores da mulher são bastante críticos com relação à noção idealizada de Marx e Engels da família proletária. Lise Vogel, por exemplo, escreve em Marxismo e a opressão da mulher que a visão de Marx e Engels sobre o lar da classe trabalhadora omite sua importância como unidade social para a reprodução, ignora a base não proprietária ainda que material da supremacia masculina e “subestima emgrande medida a variedade de fatores ideológicos e psicológicos que provêm uma base persistente para a supremacia masculina na família da classe trabalhadora”. Os teóricos marxistas subsequentes, como Clara Zetkin, Aleksandra Kollontai e Elena Osipovna Kabo, entre outros, foram muito além dessas primeiras formulações de Marx e Engels. Ver também Alfred Meyers, The Feminism and Socialism of Lily Braun (Bloomington, Indiana University Press, 1985), e Claire LaVigna sobre as ideias de Anna Kuliscoff em “The Marxist Ambivalence Toward Women”, em Marilyn Jacoby Boxer e Jean Helen Quataert (orgs.), Socialist Women (Nova York, Elsevier, 1978). ↩︎
- Para dois bons ensaios sobre Clara Zetkin e o SPD, ver Jean Helen Quataert, “Unequal Partners in an Uneasy Alliance: Women and the Working Class in Imperial Germany”, em Marilyn Jacoby Boxer e Jean Helen Quataert (orgs.), Socialist Women, cit.; e Karen Honeycut, “Clara Zetkin: A Socialist Approach to the Problem of Women’s Oppression”, em Jane Slaughter e Robert Kerr (orgs.), European Women on the Left, cit., Alfred Meyer apresenta uma visão mais negativa a respeito de Zetkin como antifeminista em The Feminism and Socialism of Lily Braun, cit. ↩︎
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Wendy Goldman é historiadora e professora da Universidade Carnegie Mellon (EUA), especializada em estudos sobre a Rússia e a União Soviética. Sua obra Mulher, Estado e revolução: política da família soviética e da vida social entre 1917 e 1936, traduzida pela Boitempo, ganhou o Berkshire Conference Book Award.
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Leia um trecho do artigo assinado por Clara Zetkin no Blog da Boitempo.
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“Não é o trabalho feminino em si que rebaixa os salários ao entrar em competição com o trabalho masculino, mas a exploração do trabalho feminino pelos capitalistas que dele se apropriam.”
— Clara Zetkin em discurso ao Congresso de Fundação da Segunda Internacional em 1889, citado por Wendy Goldman em Mulher, Estado e revolução.
Margem Esquerda #28 | Feminismo, marxismo e a Revolução Russa
A revista semestral da Boitempo dedica-se, neste número, a acompanhar o percurso da maior tentativa de transformação social já empreendida na história da humanidade, a Revolução Russa de outubro de 1917, reunindo ensaios, documentos, poema e imagens que abordam, sob diferentes ângulos, esses cem anos de história. O dossiê “Feminismo, marxismo e a Revolução Russa”, organizado por Artur Renzo, traz textos de Maria Lygia Quartim de Moraes, “As origens do feminismo marxista”; Wendy Goldman, “A libertação das mulheres e a Revolução Russa: legado e lições”; e Rejane Hoeveler, “A Revolução Bolchevique no olhar de Clara Zetkin”. Inspirados pelos ventos de Outubro, a seção Documento republica “A Revolução Russa”, escrito no calor da hora (em julho de 1917!) por Astrojildo Pereira, e traduz do russo o inédito “Mulher e socialismo”, da cosmonauta e ativista Valentina Terechkôva. O Clássico desta vez é a “Carta sobre o stalinismo”, de György Lukács, traduzida por Leandro Konder e apresentada por Antonio Carlos Mazzeo. A entrevistada da edição é a historiadora Anita Leocádia Prestes. A revista conta ainda com artigos de Michael Löwy, Slavoj Žižek e Guido Liguori, entre outros.

Kollontai: desfazer a família, refazer o amor, de Olga Bronnikova e Matthieu Renault
Figura central na Revolução Russa de 1917, Aleksandra Kollontai foi pioneira do feminismo socialista e a primeira ministra de Estado do mundo contemporâneo. Esta biografia que recupera a vida e a obra dessa revolucionária russa, com destaque para suas críticas às relações de gênero. Os autores apresentam as dificuldades que Kollontai enfrentou no partido referente às questões sobre as mulheres e não deixam de mostrar aspectos contraditórios da biografada.
Antes de a contrarrevolução sexual varrer os avanços pós-1917, Kollontai foi figura central em importantes decisões, como o direito ao aborto e a facilitação do divórcio para as mulheres. Sua trajetória política sempre foi contrária ao senso comum de que questões relativas ao gênero deveriam ser problemas periféricos: “Kollontai não deixaria de demonstrar que a luta pela igualdade homens-mulheres no plano econômico e social e a reinvenção das formas do amor e da sexualidade eram indissociáveis, e que sua trama delineava um programa revolucionário completo, dotado de uma autonomia que não impedia – ao contrário, pressupunha – sua articulação estreita com as ‘tarefas do proletariado’. Por essa razão, a satisfação dessas reivindicações não podia ser adiada eternamente sem comprometer o futuro do próprio comunismo”, escrevem Bronnikova e Renault no prólogo.


A revolução das mulheres: emancipação feminina na Rússia soviética, organizado por Graziela Schneider
Uma coletânea histórica de escritos femininos da Revolução Russa de 1917, esta antologia percorre temas como feminismo, emancipação, trabalho, luta de classes, família, leis e religião, permitindo distinguir que houve, de fato, a conquista de direitos desde então, mas demonstrando também como ainda há muito o que conquistar. Os artigos, atas, panfletos e ensaios aqui reunidos são, apesar de clássicos, mais atuais do que nunca. A coletânea vem acrescida de fotografias das autoras e de cenas da Revolução.
Compre junto: Biografia Kollontai + A revolução das mulheres
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A voz incisiva da renomada ativista em uma compilação de discursos e artigos sobre desigualdade racial, condições das mulheres e lutas sociais. A autora traz dados históricos e estatísticos detalhados sobre as condições das mulheres, da classe trabalhadora e da população negra nos Estados Unidos durante o governo Reagan, mostrando como a política adotada naquela administração operou para enfraquecer esses grupos sociais. Mostra, ainda, as influências das políticas norte-americanas em países da América Central, da África e do Oriente Médio, destacando o impacto que tiveram para fortalecer um movimento econômico mundial de concentração de renda e enfraquecimento das lutas sociais em vários países do mundo. Ao mesmo tempo, ela dedica um capítulo inteiro à obra de Clara Zetkin; faz reflexões importantes sobre a resistência representada pelos movimentos sociais e sobre o potencial de conscientização e contestação da educação e das artes, em especial a pintura, a fotografia e o blues.
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